Maravilhada com o “espírito natalino” desde sempre, eu nunca havia percebido que a história se repete todos os anos. As pessoas se tornam potencialmente mais humanas, doando mantimentos, brinquedos e tempo para os menos favorecidos. O mercantilismo barato (caro) que acompanha a época em questão cria no inconsciente dos consumidores enlouquecidos a idéia de que presente e Natal não podem andar separadamente. O super aquecimento do mercado faz com que as ruas comerciais da cidade fiquem abarrotadas de formigas encarrilhando caixas coloridas. São as mesmas músicas, mesmas emoções, mesmas palavras.
Os enfeites coloridos e as luzes se espalham por todos os lados. Onde é possível, pendura-se pisca-pisca, lâmpadas e cordões reluzentes, para dar um brilho a mais ao Natal. A caprichada decoração transforma ruas escuras em cenários deslumbrantes. Mas depois de passado o mês de dezembro, as luzes são apagadas e guardadas para o próximo ano, o que significa que toda aquela luminosidade era temporária, incapaz de fixar residência em algum lugar.
O meu Natal de 2011 precisava de mais do que pisca-piscas ocasionais. Eu precisava de uma luz verdadeira e eterna, que me ajudasse a ultrapassar a escuridão que me conduzia à tristeza. Então me lembrei do que Jesus disse de Si mesmo: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, pelo contrário, terá a luz da vida”. Eu tinha (tenho) Jesus, por isso minha luz não ia se apagar depois da festa. Eu reconheci, em meio às comemorações, a voz do anjo que declara que o Seu nome seria Jesus porque “Ele salvará o Seu povo dos seus pecados”. Sabe onde li isso? Na minha Bíblia linda, que ganhei do meu pai justamente no Natal, mas de 2010. Foi o melhor presente que recebi, sem demagogia. Só eu sei o quanto foi significativo ganhar dele um abraço de “feliz Natal” acompanhado pela Palavra de Deus transliterada em um livro. Na ocasião, dei a ele um vinho, que era uma de suas paixões. “Você me ensinando o caminho e eu te desvirtuando com esse presente”! Ele riu.
Lembro-me do último Natal antes da tragédia... Na verdade, não passamos juntos. Essa lembrança já me causou dor, mas aprendi que não posso ser tão dura comigo. Desde que a mãe dele faleceu, em 2003, muitas mudanças aconteceram. Datas assim tão familiares, como Natal e dia das mães, já não tinham o mesmo significado. Ele se escondia, na impossibilidade de expressar a dor que sentia pela ausência de sua diva. Mesmo com a nossa insistência para que ele se juntasse à família na noite de Natal, a tristeza se unia à teimosia e ele permanecia irredutível, sozinho em casa. Foi assim no ano passado. Hoje me pergunto por que eu, minha mãe e minha irmã não abrimos mão da festa da família e ficamos ali com ele. Acho que essa pergunta é irracional demais. Se a história fosse outra, se fosse outra pessoa da minha família que tivesse partido pra eternidade e se eu tivesse perdido a chance de passarmos o último Natal juntas, eu me perguntaria por que fiquei em casa com meu pai e não fui à festa. Então, decidi não me prender ao que poderia ter feito, e sim ao que fiz. Eu sei o que fiz. Deus sabe o que fiz.
O problema maior é o já banalizado pedido de Natal. No ano passado, pedi para que o meu pai estivesse lá conosco no próximo ano, além de pedir para que o momento que estávamos enfrentando, até então o mais doloroso de nossas vidas, fosse superado sem maiores transtornos. Sim, a tempestade em questão passou; porém, meu pai mais uma vez não foi à festa de Natal. A diferença é que não o encontramos ao voltar pra casa.
Caiu por terra o discurso de “enfrentamos dificuldades esse ano, mas o importante é que estamos todos vivos e com saúde”. Foi o Natal mais triste da minha vida e, ao olhar pra minha família reunida ali, os pais com os filhos e até netos, me perguntei várias vezes o porquê de justamente a minha casa ter ficado menor. Outra pergunta irracional, claro. A hora da foto foi uma tortura só... Enquanto que alguns dos meus tios se apertavam em um abraço coletivo com o cônjuge e os filhos, a fim de todos serem alcançados pela lente da câmera, a nossa foto foi quase deprimente... Eu, minha mãe, minha irmã e uma ausência enorme do lado. Ainda bem que a Naná se juntou a nós e tornou o momento menos trágico.
Mas espera um instante! A despeito de como eu me sentia, havia um motivo para estar ali, e olha que não estou me referindo à revelação do amigo secreto nem às guloseimas de Natal. Claro! Era o aniversário do meu amigo Jesus! Como não pensei nisso antes!? Ele deveria estar, no mínimo, triste por eu tê-Lo ignorado de forma tamanha. Acontece que, infelizmente, o ser humano tem a tendência de dar ênfase ao que perdeu, em detrimento do que possui. E eu tinha/ tenho muito: o Rei dos reis me chama pelo nome, conhece minhas preferências, virtudes e defeitos.
Tudo bem que Jesus não nasceu em dezembro. Nem poderia, teologicamente falando. Mas o cerne da questão é que Ele nasceu, e o fez por mim, em particular. É claro que tal demonstração altruísta e abnegada de amor merece comemoração. Cantei “parabéns” bem baixinho pro aniversariante e entreguei o presente que havia levado comigo. Na hora do “com quem será que Jesus vai casar” não restava dúvida... “Vai depender, vai depender, vai depender se Sua noiva (da qual eu faço parte) vai querer”. Sim, Jesus, eu aceito. Está tudo preparado para o grande dia. Te espero ansiosa, mas não a ponto de perder a esperança; nem tão esperançosa a ponto de perder a ansiedade.
Mãe e irmãs. "Diga ainda que a gente conseguiu sobreviver à dor e Deus mandou a chuva". |
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