quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ao redil voltou

"Eram cem ovelhas, juntas no aprisco...
Eram cem ovelhas, que o amante cuidou.
Porém uma tarde, ao contá-las todas...
Lhe faltava uma, lhe faltava uma, e triste chorou".

Nunca imaginei que essa música pudesse se aplicar tão perfeitamente à minha vida...
Me lembro de ouvi-la quando criança. Minha imaginação fértil criava todo o cenário da história... A ovelhinha perdida, com medo, e o momento glorioso em que era encontrada pelo pastor, que a abraçava com saudade.
Me lembro de ouvir meu pai cantá-la...
"Eram duzentas ovelhas"...
Nós o corrigíamos aos risos, lembrando-o de que eram apenas cem.
Ele não perdia a piada, claro:
"Desde que eu era menino esse número de ovelha não aumenta, gente. Nenhuma delas ficou prenha de lá pra cá"?
A verdade é que eram cem. Menos uma, que se perdeu.
No último domingo, dia 05 de junho, tivemos na igreja um culto especial, voltado à centésima ovelha, àquela pela qual o pastor chorou. Nem preciso dizer o quanto esse dia foi doloroso pra mim.
Ozéias de Paula, que canta a música "Cem ovelhas", esteve conosco no culto que, a propósito, foi lindo. Um misto de sentimentos... Lembranças da infância, saudades daquela época.
Não sei se sou boa o suficiente com as palavras pra conseguir explicar o que aconteceu no culto em questão. Mas quem pode me impedir de tentar? E quem pode me culpar caso não consiga?
Em dado momento, era como se eu fosse a ovelha da música. Aquela perdida, sem rumo, no escuro... A ovelha sozinha, desprotegida, com frio e com medo. Como se eu tivesse realmente saído do aprisco, rejeitando os cuidados do pastor e o conforto do lar.
Eu me arrependi. Me arrependi da distância que criei entre as demais ovelhas e eu após o acidente do meu pai. Me arrependi de coisas que disse, ou apenas pensei, em algumas ocasiões. Me arrependi de sofrer sozinha e calada, quando poderia ter contado com um dos meus muitos amigos...
Pedi perdão. Pedi perdão por ter feito o pastor (leia-se Deus) chorar por minha causa. Pedi perdão por não ter permanecido no aprisco, mesmo cheia de dúvidas e medos. Pedi perdão pelas palavras torpes, pela negligência, o comodismo...
Decidi tentar outra vez. Decidi tentar ser feliz, sorrir de verdade, sem medo. Decidi não ser amarga ou triste. Decidi viver com dignidade a história que Deus escreveu pra mim.
O problema é que essas foram decisões racionais. Estou tentando agir segundo a Bíblia, e não de acordo com o que estou sentindo. Quero chegar ao estágio de sentir de verdade que vou ser feliz de novo. Quero sentir vontade de sorrir, de voltar às minhas atividades... Enquanto isso não acontece, eu tento ser fiel a Deus e à Sua Palavra.
Além de me sentir como a ovelha resgatada naquela noite de domingo, um trecho da música serviu como uma bálsamo para a minha alma, pelo menos naquele momento... Tantas perguntas... "Será que ele sentiu dor? Será que clamou a Deus para que o ajudasse? Será que viu quando um farol se aproximou dele brutalmente? Será que tentou se defender? Será"?...
De repente, uma simples e convincente resposta...

"As noventa e nove deixou no aprisco...
E pelas montanhas a buscá-la foi...
A encontrou gemendo, tremendo de frio...
Curou suas feridas, colocou em seus ombros e ao redil voltou".

O pastor foi até lá para buscá-lo. Lá onde eu não tive forças pra ir.
O pastor o encontrou gemendo, certamente. Encontrou-se com ele quando eu não o fiz.
O pastor o abraçou para protegê-lo do frio. Deu o abraço que eu não pude dar.
O pastor cuidou de cada uma de suas feridas. Curou a dor que jamais desejei que ele sentisse.
O pastor o colocou em seus ombros. Eu nem pude oferecer a ele o meu colinho, para que recostasse sua cabeça.
O pastor o levou para o redil. Apesar de desejar muito levá-lo pro hospital e vê-lo sair dias depois, totalmente recuperado, sei que ele voltou pra casa. Voltou para sua verdadeira casa.
A propósito, sempre concordei com ele sobre o número das ovelhas, apesar de nunca ter reconhecido isso.
"Mas ainda hoje, o PASTOR amado chora suas feridas e quer te salvar".

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