“O dia amanhece e logo é a chegada do sol. Eu, tola, nem percebo a mudança que está pra acontecer”...
Quem sabe essa música possa ser aplicada com exatidão ao dia 16 de março de 2011. Se necessário fosse, eu seria capaz de detalhar precisamente todos os meus passos no dia em questão, mas prefiro não me lembrar dele. Só hoje eu não quero me lembrar.
Há dois dias sobre os quais nada podemos fazer: ontem e amanhã. Portanto, me limito nesse momento a falar do presente que, não por acaso, tem o nome de dádiva. Dia 16 de junho...
Acordei exatamente à meia-noite, com uma mensagem da Carla... “O Senhor teu Deus te protege e te guarda. O guarda de Israel está sobre a sua casa, para que o adversário não haja contra sua vida e na dos seus. Deus está aí”. Não sei se a emissora do texto transcrito se atentou ao detalhe de que justamente hoje a ausência do meu pai completa três meses, mas o fato é que as palavras enviadas serviram-me como resposta para uma oração desesperada e angustiante... “Meu Deus, guarda minha família”. Ela não faz idéia do efeito de cada vírgula digitada, não sabe como me abençoou em um dia que, inconscientemente, tornou-se maldito pra mim.
Durante a noite, um sonho que me pareceu tão real... Doce ilusão.
Eu estava na nossa antiga casa e, enquanto lavava a garagem, toda suja de barro, ouvia a voz do meu pai lá fora, provavelmente contando uma de suas histórias mirabolantes a um amigo. Ele ria alto, como de costume, e de vez em quando olhava para o que eu estava fazendo, como se quisesse fiscalizar meu trabalho. No sonho, eu tinha a mesma percepção da realidade, porque, enquanto me dedicava ao chão sujo, esperava que surgisse um elogio dele... “Gente, mas essa menina é ‘trabalhadeira’, viu. Aí, Lorraininha, por que você não é igual sua irmã? Só quer saber de gastar o dinheiro do “veím”, né, minha filha?” Não deu tempo de ouvir o comentário que elevaria meu ego, nem de ver o sorriso iluminador dele mais uma vez. O sonho se dissipou e recomeçou o pesadelo.
Acordei, me certificando de que tudo não passara de fantasia. “Meu Deus, como pode? Era tão real”... Real? Que nada. A realidade agora é outra. Fui para o trabalho como quem vai para o matadouro. Após apresentar o Patrulha, comecei a fazer a programação do Morada Gospel e, durante o processo, não resisti e tive que ouvir uma das músicas que mais me causam dor... “Como viver a vida, se não tenho motivo melhor? Como ver sentido na noite, se não há esperança no amanhecer? Viver só faz sentido se você está sempre comigo... E não há nada, nada, nada melhor que sua presença”... Outra mensagem nesse exato momento, desta vez de um número não identificado: “Oiê... Vim dizer uma coisa muito importante. Jesus te ama muito! Ele diz: ‘Não temas, estou contigo. Não te espantes, sou o teu Deus’. Tenha um ótimo dia!” Muito obrigada, pessoa sem nome. Nem me preocupei em conter as lágrimas, porque já não me esforço para impressionar as pessoas com a minha suposta força. Saí da rádio com o coração na mão, desejando nunca ter estado ali, nunca ter saído de casa, ou do ventre materno, de nada...
Dia tumultuado, com muitos compromissos. Na pior das hipóteses, me mantive ocupada durante grande parte do tempo e isso me poupou do ócio que me faz sofrer ainda mais. No final da tarde, uma ótima notícia... Nota 9,4 no PREX! Pra quem esperava um 4,5 (não querendo ser pessimista), foi uma ótima pontuação.
Último dia da Jornada Científica... Muito interessante, a não ser pelo detalhe de ter perdido a palestra do Silmar Coelho. Consegui me divertir um pouco, principalmente com o título de Garota Delícia (não é nada disso que estão pensando... Tem a ver com a Revista Delícia, especializada em culinária). Mas aí chega o momento de voltar pra casa e, inevitavelmente, a cena se repete... Dia 16, 10: 15 da noite, garagem, João Neto, meu quarto, perguntas, lágrimas...
Cada vez que penso no que aconteceu, preciso convencer a mim mesma de que trata-se da realidade. Literalmente, eu não consigo acreditar. Vai além de aceitação ou entendimento dos porquês... O fato é que não parece ser verdade. “O improvável insiste em acontecer”...
Nem quero imaginar como está a minha mãe hoje. Falei com ela por três vezes e não tive coragem de tocar no assunto. Minha irmã, a Lucielle, a Évellyn, a Vânia, Luís, Alessandra, Lucimar, seu João... Como estarão os que tão de perto conheceram meu pai e tão verdadeiramente o amam? Todos dilacerados, assim como eu. Claro.
“Ela acreditava em anjos e, porque acreditava, eles existiam”. Quero crer em um amanhã melhor, sem vestígios do dia 16.
“Descubro eu a hora triste de partir, mas espero a hora feliz da chegada. Quando falo com alguém, falo em nós. E quando penso só em nós, descubro uma grande saudade”.
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