sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Doce novembro



Novembro trouxe consigo muita expectativa, além de trabalho inesgotável e correria, claro, atributos natos do Projeto Experimental, vulgo PREX. Foram nove meses de dedicação, como em um período gestacional. Inúmeros sacrifícios, abstinência familiar, finais de semana bem gastos com pesquisa, produção, edição e afins.
Na verdade, o TCC (trabalho de conclusão de curso) foi pra mim uma válvula de escape, contrariando a sensação de incapacidade que senti na época em que começamos a elaborá-lo. Fevereiro de 2011, início de semestre, necessidade urgente de se pensar em um grupo e um tema para o PREX. A escolha estava “tão certa como o ar que eu respiro” (parafraseando a música): Dionézio Costa, Júlio César, Lidiane Guimarães e Muriele Silva, com o tema Hospital do Câncer de Rio Verde. Para os íntimos: MuriLidi, Julinho e Costa, defendendo o Projeto dos sonhos. Ali começava o que eu posteriormente chamaria de saga, ou praga do PREX.
A empolgação com o novo e desafiador projeto logo foi interrompida pela pior notícia que já recebi na minha vida. Me lembro das palavras da Lidi, ditas a outras pessoas, claro, na vã tentativa de não me deixar perceber o quanto o momento era cruel: “sei que tragédia não escolhe hora pra acontecer, mas esse é o pior momento pra algo assim vir sobre a vida da Murizinha”. Inicialmente, concordei com ela. No decorrer do ano, entendi que se não tivesse uma causa tão importante pela qual lutar, não teria continuado viva, pelo menos não literalmente. O trabalho foi uma forma de canalizar a dor, de me concentrar em outra coisa a não ser a perda, a injustiça, a ausência do meu pai. Eu precisava ir até o fim, simplesmente porque ele havia dito para os amigos que tinha uma filha jornalista e eu não poderia permitir que pensassem se tratar de uma mentira. Eu não queria decepcioná-lo, nem me decepcionar, nem decepcionar meu grupo, muito menos o hospital. Eu suportei o mês de março como quem dava o último suspiro de vida ao final de cada dia. Nos meses que se seguiram, me doei o tanto quanto pude ao projeto, percebendo nele uma maneira, por mais discreta que fosse, de amenizar a sensação de vazio e da minha inutilidade na Terra.
Meus amigos tiveram de se acostumar com a minha constante ausência, ausência essa provocada pelo projeto e pela perda que fez de mim uma companhia nada agradável. A maioria deles soube lidar tão bem com isso que nem acredito. Sem cobranças, sem perguntas de por que ou pra quê. Apenas abraços, sorrisos e lágrimas, acrescidos de “não é assim que funciona, dona Muriele”, “vou te dar uma semana pra sair dessa vida”, “se não deixar de ser mal criada, vai ficar sem sobremesa”... Não sei o que seria de mim sem os choques de realidade que recebi dos meus anjos. Nada do tipo “sua mãe precisa de você”, ou “você tem que ser forte”... Ouvi coisas que realmente marcaram minha vida e influenciaram minha volta a ela, coisas que só quem me conhece bem poderia dizer, sem estereótipo, sem julgamentos.
Pesquisa bibliográfica, correções, incompatibilidade de idéias, produção de pautas, gravação de entrevistas, decupagem, roteiro, mais pesquisa, mais correções, um pouco mais de pesquisa, e mais um pouco, e mais um pouco. Com Nichols eu aprendi não só a respeito do poder de persuasão do documentário... Entendi que ele poderia mudar histórias, inclusive a minha. Bernard foi útil quanto à produção do filme, mas também reafirmou a tese de que quando acreditamos em algo, temos que lutar para provar sua viabilidade. Barbosa foi categórica quanto aos direitos dos portadores de câncer e às dificuldades enfrentadas por eles, além de me fazer repensar a respeito da brevidade da vida, tema tão pertinente ao momento pelo qual eu passava.
Por inúmeras vezes a reunião de PREX foi descaracterizada, transformando-se em um tempo de consolo, em que a Lidi paciente e atenciosamente me ouvia chorar e repetir as mesmas histórias por horas a fio. É incontestável que ambas aprenderam e cresceram muito nesse período. É incontestável também o quanto ela me ajudou a manter a sanidade, sendo verdadeiramente meu ponto de equilíbrio. Ela fazia com que as coisas parecessem mais fáceis. Hoje vejo que não era nada tão simples quanto ela pintava, e ela sabia disso. Mas sabia também que se demonstrasse fraqueza e insegurança diante da irmã fragilizada, certamente a levaria à desistência. “Murizinha, dá pra melhorar pra eu poder ter minhas crises também”? Nunca vou me esquecer das renúncias que fez, do quanto foi altruísta e abnegada, tudo por mim, tudo pra me ver chegando inteira ao final do ano e da vida. Quantos dias 16 passamos juntas, digitando, chorando, comendo e cantando “we are the champions, my friends”! A Lidi não me deixou desistir e fazia questão de lembrar quem eu era o tempo todo. Ela me permite errar, chorar, cair, sentir raiva, frio, calor, tédio, preguiça, amor, ódio (momentâneo)... Coisas simples, mas que me tornam humana, como de fato sou.
Sempre que passávamos pelo auditório, vazio e escuro, repetíamos a mesma frase: “um dia isso aqui estará lotado, esperando por nós”. Parece até que ele entendia o recado e ia se projetando para a noite memorável que testemunharia. Na noite anterior à apresentação, a última e fatídica crise, que me levou a crer que, se tivesse que esperar mais que um dia, não conseguiria suportar. Eu havia chegado ao meu limite. Limite de paciência, de estresse, de cansaço, de dor física e emocional, de sono, de aulas sem banho, sem almoço, sem vontade. Eu pensei em desistir, confesso. Mais de uma vez. Principalmente em noites de crise, as quais são aparentemente instransponíveis. Mas não são. São apenas noites escuras e, quanto mais escuras se tornam, mais denunciam a chegada do amanhecer. 
De repente, passaram-se os noves meses e foi marcado o dia do parto: 08 de novembro. Após uma gestação de risco, com inúmeras dificuldades e superação das mesmas, nasceu o Projeto dos sonhos, com o peso de 23 personagens e o tamanho de 25 minutos. No dia da cirurgia, logo pela manhã, começou o trabalho de parto. Olhar para o auditório vazio e imaginá-lo repleto de rostos conhecidos parecia não condizer com a realidade. Mas o fato é que, após muita correria com os últimos toques, a exemplo das caixinhas de pipoca que ficaram tão famosas, chegamos nós quatro (eu, Lidi, Júlio e Costa) juntos, como quem chega a uma noite de premiação do Oscar. Não deu tempo de observar o auditório vazio e compará-lo com aquele que havíamos visto pela manhã, porque sem que pudéssemos perceber, ele logo estava cheio, literalmente cheio, sem poder acomodar todas as pessoas que ali estavam para assistir o nascimento do nosso filho. Quanta honra! Quanta alegria! Vontade de chorar, de abraçar todo mundo, de terminar o que havíamos começado, de começar tudo de novo!
Quando dei por mim, estava no palco, e diante dos meus olhos uma pequena multidão que torceu, orou, rezou e colaborou com o nosso sucesso. “Senhoras e senhores, boa noite. Sejam bem-vindos à estréia do filme Projeto dos sonhos: Hospital do Câncer de Rio Verde”. Mais surpreendente do que ver tantos olhos atentos ao que eu dizia, foi ver esses mesmos olhos se apertando e dando lugar às lágrimas sinceras, de admiração, de reconhecimento, de gratidão. Ao final do filme, eu e meu grupo, de mãos dadas, fomos aplaudidos de pé, não porque merecíamos tal ato, mas porque estava escrito que deveria ser daquela forma. Como em um passe de mágica, aquele momento único passou, rápida e definitivamente. De repente não vi mais ninguém, a não ser a banca examinadora, que nos julgou de acordo com nossos cuidados com a gravidez. O resultado foi muito bom... Todos aprovados, com a maior nota para a Lidi, justa e merecidamente.
A sensação do pós-banca é indescritível... Um misto de sentimentos que não cabem dentro do peito, que precisam ser verbalizados. “We are the champions, my friends”! Sim, nós somos campeões, por motivos que perpassam um simples trabalho de conclusão de curso. Depois da argüição dos professores, o verdadeiro sentimento de liberdade, de missão cumprida. Para minha surpresa, alguns amigos me aguardavam lá fora, e juntos fomos aproveitar o final daquela noite que, mesmo merecendo ser eternizada, havia sido tão curta.
Mal deu tempo de comemorar e eu já tive que voltar pra casa, arrumar as malas e partir. Considerando o destino, o sacrifício foi, no mínimo, válido. Intitularia a viagem como “os dez manés, sentido litoral”... Eu, mâmis, Lô, Naná, João Neto, tia Regina, Amigo, Rogério, Silvânia e Gaby fomos para o Guarujá – SP, onde pude, pelo menos, descansar a mente e me divertir muito. Em homenagem à Naná e à Lô, preciso lembrar detalhes que fizeram toda a diferença. Lá vai, meninas:

“Óh, que calor. Queria tanto um sorvetinho”!
“Respeita a puliça”!
“Olhando para sempre”.
“Hú, ‘sombração’! Hú, cabeção”!
“Passa o anel de verdade”.
“Janete, essa foto te favoreceu, hein”.
“Tá de deboche”?
“Bom dia”. “CALABOCA”!
“E você, moça”? “NADA”.                        
“Lorrane, me empresta dois reais”? “NÃO”. “Então tira uma foto”? “NÃO”.
“Naná, ignore minha mãe e continue a nadar”.
“Tira uma foto! Eu acho que vi um gatinho”.
“AAAAAAATCHIM”! (Velhinhas ricas).
“Humildade”! TRELA.
“Vou beijar as três pra ninguém chorar”. “Fala pra ele que a gente não tá interessada e que ele teria que pedalar muito”.
“Era pra ter virado ali, Amigo”! “Mas o GPS falou que era pra seguir reto”.
“Você chegou ao seu destino”! CRI CRI CRI.
“Anêim, mãe. Vou te fazer massagem até você deixar de ser revoltada”.
“Isso é que é bonita”! “Que bosta”!
“Nágilla, me dá um aí. Você fica com dois e eu fico com dois”. “NÃO. Você não quis me emprestar dois reais”.
“Neguinha, a Lorrane falou pra você morrer sem prova”.
“Volta pro mar, oferenda”.
“Bandida, disgranhenta. Óh o quê que ela faz com a gente”! “Quem, Neguinha”? “A muriçoca”!



No dia 14 de novembro, já em casa, fiquei maravilhada com as notícias a respeito do Projeto dos sonhos. Ao que tudo indicava, até então, o filme estava alcançando seus objetivos. No outro dia, ironicamente véspera do dia 16, como no mês anterior, lá estávamos... Eu, a Claudinha, o Lindeza e a Naná, desta vez com a presença não menos importante da minha mãe, da Lô e da Nilla. Ironicamente, ou não. Propositalmente, eu creio. Assistimos “Ironias do amor”, um filme perfeito, daqueles que retratam um romance inocente, bem à minha maneira. De repente era dia 16. De repente eu já estava sem meu pai há oito fatídicos e extensos meses.
Voltei ao trabalho e à minha rotina, desta vez sem PREX, o que me causou certa nostalgia. Como de costume, a Lidi me deu “a boa notícia do dia 16”: ela marcou seu casamento para 11 de maio de 2013, e teria marcado para o dia 16 se houvesse uma data conveniente, só pra tentar me deixar como lembrança algo feliz e marcante no mesmo dia em que minha vida perdeu o sentido. Como boa notícia pouca é bobagem (parafraseando a Claudinha com o seu “egocentrismo pouco é bobagem”), passei o dia com o Otávio, que de maneira impressionante quase faz com o que o dia 16 pareça outro qualquer. Eu disse quase. O jeito que ele me olha parece demonstrar que entende minha dor e que é solidário a ela como ninguém. Detalhes desagradáveis tornaram o dia mais difícil pra mim, porque, infelizmente, há pessoas que não respeitam a dor e o espaço alheios, pessoas para as quais verdadeiramente “egocentrismo pouco é bobagem” (mais uma vez parafraseando a Claudinha). Mas tudo bem... O dia passou.
Uma marca eterna foi deixada em meu coração no dia 19. Executamos a primeira mostra pública no Projeto dos sonhos e, claro, não haveria melhor lugar para fazê-lo a não ser no Hospital do Câncer, que realizava também sua 8ª Campanha Liga da Mama. Na ocasião, o deputado federal Heuler Cruvinel anunciou ao expressivo público o repasse de uma verba no valor de R$ 3 milhões para o HC... Ainda não sou mãe, embora acredite compreender o significado de ser, mas naquele momento era como se um filho meu estivesse recebendo o tão esperado benefício. Não consigo explicar esse sentimento pelo hospital... Enfim, o filme emocionou a muitos, em especial uma professora que, após pedir o uso da palavra, chorou e nos fez chorar também. “Isso é o que eu chamo de trabalho de conclusão de curso, e não aquela papelada que entregam pra ficar arquivada na faculdade”. Justamente, nobre e desconhecida professora. Trata-se da tentativa de promover mudança e ajudar o próximo, que nem precisa ser tão próximo assim... Pode ser de longe, mas não deixa de ser próximo.
Antes que pudesse morrer de tédio sem o meu amigo PREX, lá estava ele de volta. Dia 23 era o prazo limite para a entrega e nós não tínhamos tempo a perder. É claro que, como de costume, as coisas não aconteceriam de maneira fácil pra nós. Com muita dificuldade (o que nos instigou a crescer durante todo o processo de produção do trabalho), conseguimos entregar o material dentro do tempo estabelecido. Assim acabava a nossa saga, ou a praga do PREX. E não foi só o Projeto dos sonhos que nasceu neste mês... A Ana Beatriz também, saudável e faminta. Aliás, esse foi um mês de muita comemoração... No dia 24, a Gaby completou seus quatro aninhos.
Após as duas únicas provas da faculdade, sendo a última no dia 30, eu estava de férias, pelo menos academicamente falando. Aliás, o último dia de aula foi triste, já que era também a despedida dos colegas de jornalismo e publicidade que concluíram seus cursos. Apesar de já ter apresentado o TCC, eu ainda tenho um semestre pela frente.
Acabava então o meu doce novembro, que deveria abrir precedentes para um dezembro tão doce quanto. Acontece que dezembro é meu mês preferido, dado o amor que sinto pelo Natal. Isso me dá medo, porque vai ser o primeiro sem... Bom, sofrer por antecipação é tão eficiente quanto mastigar água e, além do mais, esse é assunto para outro texto. Feliz novembro!


“Flores de maio, sol de verão, a primavera está chegando... É o fim da solidão. O pardal encontrou casa e a andorinha ninho para si... E eu os Teus altares. Nuvens e raios sobre o sertão, avisa lá que está chovendo... É o fim da sequidão. Diz ainda que a gente conseguiu sobreviver à dor e Deus mandou a chuva. Primavera e verão, no outono ou inverno, então, o Senhor é o meu Pastor. Na alegria e na dor, eu confio em Ti, Senhor. Nada vai me separar do Teu amor"! 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Chuva de bênçãos

Para muitos, sinal de tristeza, incômodo pra quem tem algum compromisso e inimiga dos cabelos, principalmente no que diz respeito às mulheres. Pra mim, sinônimo de bênção e renovo. A chuva anunciou a chegada de bons momentos naquela sexta-feira, dia 14 de outubro.
Pane na rede elétrica, a faculdade alagada e em trevas. Mas no meu coração brilhava forte a luz da esperança... Eu sabia que Deus tinha algo reservado para aquele final de semana. Tinha que ter. Não tinha?
“Quem veio pra ser bênção é bem-vindo e pode chegar”, já dizia a moça que apresenta o Morada Gospel. Concordando plenamente com ela, recebi em casa duas pessoas que representam exatamente isso pra mim: BÊNÇÃO. Não porque não têm problemas, porque elas os têm. Elas choram, sofrem, têm crise existencial e de mau humor. E quem pode culpá-las por isso? Elas são bênçãos na minha vida, não porque me deixam confortável com palavras apaziguadoras. Elas são bênçãos porque decidiram que seriam assim. Talvez porque obedecem à Palavra, a qual diz “sê tu uma bênção”, ou talvez porque sua própria natureza permite que transitem entre a sabedoria e o altruísmo. Paulinha e Naná, minhas bênçãos do dia 16...
Minha história com a Naná perpassa os anos. Deus nos fez primas e o amor nos fez irmãs, melhores amigas, confidentes, cúmplices e agentes de uma missão em comum (ela tem até uma capa de espiã). Orei pela salvação dela durante quatro anos, por isso a considero minha filha, espiritualmente falando. Tive a honra imensurável de ser usada pelo Senhor para que ela se convertesse e a alegria inenarrável de caminhar com ela em direção ao púlpito, na ocasião em que entregou sua vida a Jesus. Jamais me esquecerei de seus primeiros passos, ainda tão desequilibrados e vacilantes. O medo que tinha do poder da oração... “Neguinha, Deus atende nossa oração, certo? Então, se eu cantar essa música da Fernanda Brum que diz ‘dai-me filhos’, eu vou engravidar”? Hoje, ainda me espanto ao olhar pra ela e ver o quanto cresceu. Minha menina já caminha sozinha, com seus propósitos, sonhos, sua fé firme e santidade ao Senhor. Nem preciso dizer o quanto isso me enche de orgulho.
Ela é especialista no que diz respeito à minha vida. Sabe todos os meus segredos e fraquezas. Acompanhou as minhas crises e sempre me abraçou até a dor passar. Nunca me julgou, apesar de apontar minhas falhas quando necessário. Ela me respeita tanto que nem sei. Entende quando não quero falar e ainda acrescenta: “Já sei, Neguinha. Tudo tem um propósito e você só vai me contar o que aconteceu quando o problema estiver resolvido”. Exatamente. Nós duas passamos por momentos tão difíceis, mas a amizade verdadeira não pode ser destruída. Hoje e sempre estamos juntas e nem a morte pode nos separar, porque ambas temos a promessa de vida eterna ao lado do Pai.
E por falar em pai, ela soube me compreender quando perdi o meu. Na verdade, nós sofremos juntas, já que ela também havia perdido um grande amigo. Amigo que cantava pra ela, que ligava e prometia morango com leite condensado. Talvez por isso ela não cobrasse minha exclusiva atenção naquele momento tão amargo. Ela me entendeu e respeitou porque também estava sofrendo, porque sua vida também foi tocada pelo Dr. Xingu. Fomos o consolo uma da outra. Um abraço e mais nada... Era o que precisávamos. E tivemos. Eu a abracei pra tentar amenizar a sensação de perda, e ela fez o mesmo. Naná, minha Naná, minha eterna Naná.
A Paulinha é um caso à parte. Nos conhecemos por um propósito de Deus, eu creio. Nada premeditado, nada de ensaio... Exatamente como o Senhor sonhou pra nós. Um ícone pra mim, pessoa digna de ser imitada, instrumento abençoador da minha vida. Talvez tenha sido quem mais marcou minha história na ocasião em que passei pelos meus piores dias. Amparou a mim e à minha família em oração, foi fortaleza pra minha irmã, se preocupou com a minha mãe, nos ajudou como pôde e fez muito, muito por nós.
Ela acreditou que havia esperança pra mim e me conduziu em direção a ela. Repetidas vezes me disse: “Muri, eu creio que você ainda vai dançar sobre a dor”. Mesmo sem perspectiva à época, acreditei tanto nessas palavras que elas tornaram-se um respaldo pra mim. Eu queria crer, porque sabia que Deus não podia trair a Si mesmo, deixando-me perecer em meio à dor. Com a compreensão de que se eu quisesse viver pra glória de Deus jamais poderia ficar presa à tristeza e entregue ao desespero, literalmente fiz cumprir em minha vida a palavra profética que recebi da Paulinha. Sobre um tecido preto, representando a perda, a morte e a tristeza, dancei e me entreguei totalmente, desta vez não mais às lágrimas, mas à vontade do meu Pai, aos propósitos dEle pra mim, a despeito da dor e da saudade. Serei eternamente grata a Deus por ter marcado tão positivamente minha história através da Paulinha. Jamais vou me esquecer de tudo o que ela fez e continua fazendo por mim.
Pois bem, essas duas pérolas foram enviadas até mim, pelo próprio Deus, e com elas veio a chuva, a bênção, a paz, o prazer de boas companhias, o falar sem medo, o ouvir com amor. Na verdade, vivemos uma grande aventura juntas. Sexta-feira, 11 da noite, sozinhas em casa, sob forte chuva, sem nenhum dote culinário. Após uma pequena confusão com a troca do nome de estabelecimentos comerciais (né, Paulinha?), tudo acabou em pizza. O culto familiar com as duas foi ouro.
No sábado, tive que deixá-las pra ir ao trabalho e à reunião de PREX. Aproveitamos muito os momentos que nos sobraram e a rara companhia da Vanilla. Depois, um crepe francês e uma improvisada reunião de bubiças fez com que aquele dia se aproximasse muito da perfeição. Quando o relógio, alterado pelo horário de verão, anunciou a chegada do dia 16, a sensação típica dessa data rondou meu coração, mas foi expulsa pela presença das minhas duas bênçãos, além da Claudinha e do Lindeza, que comemoravam na ocasião seu aniversário de seis meses de casamento.
O domingo começou com chuva, o que já me deixou muito feliz. O almoço em família deu ênfase ao lindo dia que fazia lá fora. Infelizmente as meninas precisavam voltar pra casa e eu pra realidade do PREX. Mas espera aí! Ainda estava faltando algo. Chuva, ótima companhia e... Isso! Faltava um açaí pra eu ficar completamente realizada. Após a saga pra conseguir um ônibus pras minhas hóspedes, chegou o tão esperado momento. Meses após, naquele dia voltei a tomar açaí. Foi quase que um momento de glória, digno de fogos de artifício e corações estourando no ar. Depois de me despedir da Paulinha e da Naná, já com muita saudade, fui pra reunião de PREX. Algo estava errado... Aliás, estava muito certo, exatamente como Deus gostaria que estivesse. Pela primeira vez em sete meses, eu estava FELIZ no dia 16. Mas espera! Não era esse o dia que marcara para sempre a minha vida, com tristeza e perda? Não era nesse dia que, mesmo inconscientemente e contra a minha vontade, eu chorava inconsolavelmente e evitava contato com as pessoas? Sim, era esse o dia. É por isso que o amor e a fidelidade de Deus me deixam constrangida.           Eu estava sorrindo, e o que é melhor, sorrindo com sinceridade, com aquele sorriso que não se desfaz, que permanece no rosto e faz com que pareçamos bobos. De repente percebi que eu estava dançando sobre a dor. Senti que Deus sorriu pra mim. Senti que Ele estava feliz pelo meu progresso, que estava satisfeito com o trabalho que havia realizado através das meninas na minha vida aquele dia.    
 Na reunião de PREX, recebi um zilhão de abraços do Walter Filho que, mesmo sem saber, também foi usado por Deus pra me abençoar. Pra mim, um abraço vale mais que uma declaração pública de amor... Ainda mais os abraços felísticos do Waltão, que fizeram com que eu provasse do meu próprio veneno. Dessa vez a Lidi não me deu nenhuma boa notícia, porque o próprio Deus se encarregou disso. “Filha, tá vendo como hoje você dançou sobre a dor”?
Se o dia terminasse ali, eu ficaria satisfeita, porque fui feliz o tanto quanto pude. Mas é claro que Papai do céu havia preparado algo além... Acontece que no dia seguinte o meu pequeno Morada Gospel completaria um aninho de vida e o coração da mamãe coruja não se agüentava de tanta felicidade. A programação daquele domingo começou com Fernandinho cantando “Todas as coisas”, exatamente como na primeira apresentação do MG, em 17 de outubro de 2010. Duas coisas sempre me surpreendem: o amor de Deus e o carinho dos meus preciosos ouvintes. Melhor que ter um programa de sucesso em uma emissora de rádio, é ouvir depoimentos como: “Muriele, eu conheci a Deus através de você”; “minha família foi restaurada pela palavra que ouvi certo dia no Morada Gospel”... Assim eu me sinto útil, sinto que ainda não acabou, que ainda tenho algo pra realizar nessa Terra e que preciso combater o bom combate pra só depois encerrar a carreira e guardar a fé.
O mais interessante é que eu não sou a única a ser usada por Deus pra abençoar vidas através do Morada Gospel. Meus preciosos ouvintes são eficientes instrumentos nas mãos do Pai e abençoam tanto minha vida que nem sei dizer. Cada palavra que recebo, cada carta, e-mail, mensagem ou ligação... “Muriele, estou orando por você. Não desista, você vai conseguir”... Tudo isso é adicionado à minha história de vida, a qual está sob o controle de Deus.
E quem disse que o Morada Gospel não pode receber presentes? Adivinhem o que ele ganhou da tia Claudinha!? Um sapatinho lindo, pra comemorar seus primeiros passos, alicerçados na Palavra de Deus. Apesar de a cor do presente ser um tanto duvidosa (sapato rosa para um menino), a mamãe amou e ficou grata pela atenção. Na verdade, o detalhe da cor traz consigo um significado importante... O programa não faz acepção de pessoas, assim como o Pai da eternidade. Não importa a religião, a classe social, o sexo, o grau de instrução... Quem veio pra ser bênção é bem-vindo e pode chegar!
A propósito, faço questão de transcrever a cartinha que o MG ganhou (ou eu ganhei) no dia de seu aniversário. Obrigada, tia Claudinha. Nós te amamos!


Querida Muriele...
Quando olho pra você e te vejo cada dia mais feliz e realizada, me sinto muito feliz... Porque aí consigo ver o quanto o seu programa cresceu e vejo tudo o que você conquistou e conquista a cada dia através dele. Apesar de não conseguir ficar acordada todos os programas para ouvir sua mensagem até o final, quero te dizer que eu me sinto privilegiada.
Primeiro te dizer que seu programa é uma bênção porque a mãe dele é uma bênção!
Segundo porque eu me sinto feliz em poder ter você como amiga, como irmã, de ter a liberdade de te ligar na hora do seu sono da beleza (eu nem ligo se você não me atende), de poder ir na sua casa, de saber que você se sente bem na minha... De saber que você ama a minha família e me respeita como sou, com todos os meus defeitos, e escuta meus lamentos e eu sei que, concordando ou não, você está sempre do meu lado.
Eu sei que você ora por mim... Eu sei, amiga... Eu sinto...
Então eu fico feliz, porque sei também que esse é um privilégio que poucos têm, e Papai do céu me deu... Mas para não ser injusto com as outras pessoas, nasceu então o Morada Gospel, onde você tem a oportunidade de abençoar vidas, de orar por pessoas que você nem conhece, de ajudar vidas que você às vezes nem tem noção de como estão quando ligam o rádio pra te ouvir, pra ouvir a Palavra de Deus. É bom saber que pessoas estão sendo abençoadas através da sua vida... Melhor ainda é saber que Deus te abençoa e renova as suas forças a cada programa, a cada testemunho.
A minha oração hoje é para que Deus continue abençoando os seus passos e os passos do Morada Gospel... Que o seu programa continue sendo iluminado pelo amor de Deus... E eu estou aqui torcendo muito por você e para você.
Parabéns, amiga! Este dia é seu! 17/10/2011.
Amo você!  


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A vida tem a cor que a gente pinta

Preciso que acreditem em mim! Eu não faço de propósito... Não escolho escrever apenas quando se aproxima o dia 16, mas devo dizer que é involuntário. Quando estou feliz e saltitante, tenho muitas formas de expressar essas emoções. Ao contrário disso, quando estou triste, encontro nas palavras uma eficiente ferramenta de canalização da dor. Portanto, permitam-me? Obrigada.
Esse dia 16 é um tanto diferente dos demais. Novas perspectivas pintam um quadro no qual constam também esperança de dias melhores e fé em um futuro desenhado por Deus, embora a saudade insista em entrar em cena, mesmo que camuflada logo aí, atrás daquela mistura de cores. Consegue ver? Talvez não perceba porque não perdeu alguém tão importante quanto a pessoa que perdi. Mas, caso se interesse em saber, a tinta fresca, mesmo que tão competente no tocante ao seu dever de colorir, não pode ofuscar a ausência de uma pessoa amada. Acontece que, na pior das hipóteses, aprendi que a vida tem a cor que a gente pinta. Então, meus caros, se tenho cor-de-rosa, verde, amarelo, azul, lilás e vermelho nas mãos, não posso ser omissa a ponto de inutilizar tão vivas cores e substituí-las pelo cinza e o preto.
Pincel e tintas felizes em mãos, vejam só o que consegui fazer!
Primeiro tenho que falar da fidelidade de Deus, mais uma vez demonstrada a mim na ocasião da minha terceira banca de PREX (Projeto Experimental, que equivale à monografia). Como Papai do céu nunca conseguiu entender o significado da palavra “impossível” (acho que é muito complexo pra Ele imaginar a possibilidade de não conseguir fazer algo), Ele foi lá e fez. Fez o quê? O melhor, o mais lindo, o mais agradável, o mais perfeito, que se traduz em Sua vontade. Eu e meu grupo saímos da faculdade maravilhados. Confesso que não fiquei surpresa... Porque sei em QUEM confio. Sei o Deus que Ele é pra mim e que não decepciona aos que nEle confiam.
Enquanto eu comemorava, mâmis se divertia lá no Mato Grosso, visitando nossos amados familiares. Com ela e a Vânia, o marinheiro de primeira (de muitas que virão) viagem, minha mais linda bênção de olhos verdes, Otávio. Minha mãe estava mesmo precisando dessa viagem, assim como eu estava precisando da minha...
Sim, eu tirei uns dias de folga! Por incrível que pareça, dois anos e sete meses depois (com exceção de alguns dias quando fui ao casamento da Lu), decidi me afastar de todos os meus empregos e demais responsabilidades, mesmo que por pouco tempo, pra fazer a viagem dos meus sonhos.
Adivinhem! GRA-MA-DO foi o destino escolhido. Na verdade (percebam o quanto Deus é lindo), nem fui eu que fiz tal escolha. Foi uma surpresa! “Muriele, organize uma viagem pra Gramado. Sei que é seu sonho e você está mesmo precisando”. CLARO! Era meu sonho e, de fato, eu já não suportava a pressão de tudo e todos. Mais surpresa ainda eu fiquei ao saber que a Claudinha queria ir comigo. Quando penso no sacrifício que ela fez, agradeço a Deus por tê-la como amiga. Não é fácil ir àquela cidade linda, ver tanta gente bonita, sentir frio e tomar chocolate quente! Brincadeiras à parte, sei o quanto isso custou a ela... Deixar o Lindeza sozinho já diz tudo. Minha eterna gratidão à minha pequena Minnie.
Nem precisava dizer, mas eu faço questão! GRAMADO É A COISA MAIS LINDA DO MUNDO! É meu sonho de consumo... Inclusive é um lugar propício à minha felicidade, já que tem uma igreja, um cinema, um jornal, Papai Noel o ano inteiro, frio predominante, chocolate quente e gaúchos que dispensam comentários.
Vivi dias incríveis lá. Dias esses que jamais serão esquecidos. Eu agradeci a Deus por cada momento que Ele me proporcionou ali, tão perto dos meus mais lindos sonhos, em nítido contraste com os dias maus que passara aqui. Era o fôlego do qual eu precisava, o estímulo para mais algumas milhas de caminhada. Eu voltei renovada e feliz, crendo que essa história de Rio Grande do Sul não podia acabar assim. Confesso que, por alguns motivos específicos, um pedaço do meu coração ficou lá. Nada mais justo que voltar para buscá-lo, ou deixar o restante com a parte que não quis vir.
Nessa viagem aprendi lições que vou levar pra vida toda... Através de um livro que a Claudinha comprou só pra me emprestar, verdades bíblicas foram reativadas na minha memória. Lembrei-me que o caminho de volta pra casa passa pelo deserto; não o contorna nem nega sua existência. Deus chega trazendo consolo aos exilados, exatamente onde a vida deles está mais árida e difícil, e o sentimento de perda, mais profundo. O exílio desértico da dor e da perda traz consigo uma sensação de deslocamento, culpa, falta de lar, desespero quanto ao futuro e incerteza sobre como continuar vivendo. É comum procurar nos afastar dessa dor torturante ou tomar o caminho mais fácil. Mas a dor não diminui por nossa negação ou fuga. O deserto deve ser, e será, cruzado. Lembrei-me que devo confiar em Deus e ter a certeza de que Ele está comigo no deserto. Lembrei-me que devo esperar.
Curiosamente, porém, eu avanço enquanto espero. Porque esperar no Senhor não significa recostar-se passivamente, mas tem a ver com uma atitude de ávida esperança concentrada no próprio Senhor. Esperar nEle significa abraçar de novo a vida, tendo sido capacitada por Ele mesmo pra isso. Quando confio no Seu amor, ocorre uma troca milagrosa... A Sua força entra no lugar da minha fraqueza. Quer voando, correndo ou caminhando, pela graça de Deus, avanço a qualquer passo e em qualquer caminho que o Senhor me dirigir com sabedoria. Afinal de contas, não posso me entristecer como aqueles que não têm esperança. No entanto, sei que tenho o direito de chorar, porque o próprio Jesus o fez.
Lembrei-me que, quando somos afligidos pela tristeza e perda, dependemos de Deus para a libertação e o redescobrimento de direção para prosseguirmos com esperança e propósito. Essas verdades marcam, de forma redentora, a vida de quem sobreviveu para testemunhar e também a vida de quem cujos ouvidos permaneceram abertos na tentativa de aprender com experiências alheias. Lembrei-me também que Deus estende Sua mão para proteger especialmente os que não podem se defender, ou seja, os símplices (sim, PJ, Renato, Lindeza e Claudinha, eu descobri o significado de “símplices”; e não é o plural de “simples”, viu) que foram derribados pelos duros golpes da vida. Aqueles cuja fé de criança os ensinou a serem humildes reconhecem que são fracos e indefesos e se voltam confiantemente a Deus. Posso dizer que isso aconteceu comigo. Ao confiar no que Papai do céu estava fazendo, sem tentar persuadi-Lo (mesmo sabendo que não teria sucesso) a agir de acordo com o que eu esperava, me derramei em Sua presença. E, querem saber? Ninguém sai da presença de Deus vazio, exceto os que já estão cheios de si.
Na volta pra casa, trouxe na bagagem um quadro lindo com a imagem colorida de Gramado. As cores eu levei na mala, porque eu sou a única responsável pelo que faço da minha vida e pelo tom que dou a ela.
E por falar em quadro, estou terminando um lindo. Nesse estou caprichando especialmente, já que trabalho nele há um ano... Chama-se Morada Gospel. Mas calma! O fato de estar terminando-o não representa seu fim. Nele eu vou dar retoques uma vez por semana (aos domingos, pra ser mais específica), até que a obra seja concluída e devolvida a Deus, que me deu. Mas esse é assunto para um novo post. Quem vai dar presente nesse aniversário de um aninho do MG? Quem? Quem? A mamãe dele (eu, no caso) está de braços abertos pra receber as congratulações. Marquem na agenda! É dia 17 de outubro (um dia depois do dia 16)!


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A bênção do dia 16

Engraçado eu não ter postado nada no dia 16... Parece até que sabia que havia algo mais pra contar.
Seis meses sem meu pai... Ao abrir os olhos, meu primeiro pensamento foi: “o que será que Deus quer falar comigo hoje através dos meus amigos”? Isso porque eles sempre me surpreendem com seu cuidado e seu carinho. As mensagens começaram a chegar logo pela manhã e, ao final da tarde, a boa notícia. A Lidi fez consigo mesma um compromisso de me dar uma boa notícia todo dia 16. Não sei até quando vai durar, mas confesso que isso tem servido como estímulo pra mim. Fico como uma criança esperando um prêmio pelo bom comportamento. E a notícia que chegou não foi boa, foi ótima, foi resposta às minhas orações, foi a prova da fidelidade de Deus. “Murizinha, o ‘ti’ Zé tá vindo na quinta-feira, um dia antes da banca”! Se eu não conhecesse de perto o Deus a quem sirvo, não acreditaria no que ouvi. Me lembrei da música que o Pedro cantou pra mim ao telefone dias antes... “As ondas tentam me desesperar, me desacreditar. Os ventos dizem que tudo isso é bobagem, e o que vale é a realidade. Mas em Suas mãos eu posso ter força pra seguir e não olhar pra trás. Só quero ouvir Sua doce voz a me dizer: ‘vem sem medo, vem’. Eu quero andar sobre as águas, sem medo de me afogar. Mesmo que os ventos me façam temer, olhando em Seus olhos e segurando em Suas mãos, eu sei que está tudo bem”. E estava tudo bem mesmo. O senhor José Gouveia garantiu que viria. Se você não faz idéia do que se trata, permita-me explicar...
Eu e meu grupo estamos fazendo o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) que, no nosso caso, chama-se PREX (Projeto Experimental). Estamos produzindo um vídeo-documentário sobre o Hospital do Câncer de Rio Verde, com o intuito de apresentá-lo para a sociedade e contribuir para que ele funcione plenamente o quanto antes. O senhor José Gouveia foi quem fundou o hospital, após ter perdido a filha, Angélica, em um acidente. Resumidamente, ele é essencial para o nosso filme e estávamos expostos ao risco de não tê-lo como personagem e de nem ao menos chegar à banca com nosso material. Enfim, Papai do céu não dorme e sabe perfeitamente o que faz. Ele não perdeu o controle da nossa história em nenhum instante sequer. Já O contratei pra ser o diretor do filme e isso é o bastante para que eu possa descansar e esperar o melhor.
Boa notícia à parte, fui pra faculdade, como em qualquer outro dia. Chegando lá, recebi um zilhão de abraços intensos até conseguir chegar na sala de aula. O dia 16 mexe não só comigo, mas com todos os meus amigos também. Aula de Economia e, na pior das hipóteses, eu estava bem. A temida hora do dia, 20:30, passou sem maiores danos. De repente, uma notícia que me preocupou. Um acidente com um ônibus escolar da zona rural. Meu Deus! A Duda e o João Vítor! Uma colega de classe me acalmou ao garantir que a tragédia havia acontecido às três da tarde. Nesse horário, era impossível que os meus pequenos estivessem na estrada. Uma garotinha de seis anos perdeu a vida no acidente, assim como o motorista do ônibus. Para os desavisados, o veículo passou por um fio de alta tensão, caído pela estrada, o que vitimou duas pessoas. O ônibus foi totalmente carbonizado.  A professora que “coincidentemente” acompanhava a turma tirou os alunos pela janela, enquanto que a garotinha que foi eletrocutada tentou sair pela porta. O motorista tentou ajudá-la e também foi atingido pela descarga elétrica. Uma grande tragédia, minutos de terror assistido por aproximadamente 20 crianças.
Chegando em casa, a constatação do meu medo. Minha mãe estava ao telefone e, ao me ver, disse: “acho que ela já soube, na faculdade”. “Mãe, a Duda e o João Vítor”? Ela acenou com a cabeça dizendo que sim. Senti medo, desespero e gratidão ao mesmo tempo. “Eles estão bem”, minha mãe afirmou. Tive receio, porque haviam me garantido anteriormente que o acidente acontecera às três da tarde quando na verdade ele aconteceu ao meio dia. Precisava vê-los pra ter certeza.
Nunca o devocional do culto familiar foi tão certeiro quanto nesse dia, a começar pelo título, “Desespero”.  A leitura bíblica veio a calhar: “Que direi? Como prometeu, assim me fez; passarei tranquilamente por todos os meus anos, depois desta amargura da minha alma” (Isaías 38.15)... “O Pai fará notória aos filhos a Sua fidelidade” (Isaías 38. 19b). O texto para reflexão não poderia ter sido mais perfeito... Falava da perda de pessoas amadas e de como o Espírito Santo nos consola nessas ocasiões. “Tudo é muito difícil quando a crise chega, invade e derruba. Só erguemos lamentos, e Deus, mais do que ninguém, compreende. Feito homem, soube o que foi padecer e sentir dores. Nessa hora, se existe algo a fazer, é lembrar que quanto mais profunda a ferida, maior é a mão curadora de Deus. Maior a mão que enxuga as lágrimas. Maior o colo onde nos resta o descanso. O sentimento desse instante é falho. Vai passar. O amor de Deus e Sua paz excedem todo o entendimento e agirão daqui a pouco”. Olhei em volta, vi minha mãe e minha irmã, a família que tenho agora. Deus, como homem da casa, estava lá também. Foi um momento marcante e acalentador.
No outro dia, tinha tantos afazeres que nem poderia me dar o prazer de ver a Duda e o João Vítor. O PREX esgota toda minha energia, meu humor e afins. Precisava estudar, já que era aquele o último fim de semana antes da temida penúltima banca. Mas, como eu sei que para tudo existe um propósito e um tempo, tivemos uma “folga” e eu aproveitei para, imediatamente, visitar meus pequenos.
Não sabia exatamente o que fazer quando ao chegar na casa deles. Não sabia se deveria dizer algo e nem se eu tinha condições emocionais e equilíbrio psicológico suficientes pra lidar com o momento. Ao fazer a curva que dava para a casa rodeada por árvores, avistei os dois de pé nos esperando, como sempre faziam. O sorriso parecia o mesmo de antes, assim como o abraço, apertado e sincero. E que abraço! A Duda me apertou tanto, que eu pude provar do meu próprio veneno, já que meus amigos reclamam constantemente a respeito do meu amor felístico. Antes que eu pudesse dizer algo, ela começou a tagarelar: “Neguinha, eu tomei choque, mas não chorei. Eu não fiquei com medo, é verdade. A tia Telma me tirou de dentro do ônibus. Eu tava presa no cinto, e não saía, não saía, não saía. Meu irmão me ajudou. Olha meu machucado”. Falar o quê? Tive que conter as lágrimas ao abraçá-la novamente. Ela tinha histórico emocional suficiente para resultar em um trauma, portanto, não precisava (nem podia) presenciar meu desabafo.
Ela disse que não quer mais ir pra escola de ônibus e que por isso vai se mudar pra casa da “mãe Verinha” (vó dela e minha tia, Vera). Continuou falante e enérgica, contando detalhes do acidente. Ao contrário do João Vítor, que se limitou a dizer que estava bem e que o “tio Izoel (motorista) estava muito alegre naquele dia”. Era aniversário dele (João) e, a pedido da mãe, levou o celular que ganhara de presente pra escola, sob a justificativa de que toda a família gostaria de parabenizá-lo. Nesse detalhe vejo um propósito de Deus. Assim que conseguiu sair do ônibus, enquanto a professora Telma retirava os demais alunos pela janela, ele ligou pros pais e pediu socorro, dizendo apenas que o ônibus havia se envolvido em um acidente e que “o tio Izoel” estava machucado.  A partir de então, a equipe médica e o corpo de bombeiros foram acionados e prestaram socorro às vítimas.
Os meninos tiveram dificuldades pra dormir na noite anterior. A Duda não conseguia esquecer a imagem da coleguinha sendo eletrocutada. Ela afirmou ter visto “o bracinho da Lorrane pipocando e o pescocinho estralando”, como se fosse muito adulta pra se referir a uma criança dessa maneira. “Eu vi também a perna do tio Izoel pegando fogo”, ela insistia no assunto. Por mais que eu quisesse dar a ela toda a atenção necessária e ouvir suas incontáveis histórias, àquela altura não tinha mais condições emocionais para tanto. Aproveitei o convite do João pra jogar bola e tentei distrair os dois.
“Eu sou o Neymar”, ele gritou, e logo após me corrigiu dizendo que eu não poderia ser o Robinho (como gostaria), e sim, a Marta. Concordei e a partida começou. Eu e a Duda contra ele. Devo dizer que os dois são bem melhores que eu. Dez minutos depois, eu já não me agüentava sobre os pés. A botina tava apertando meus dedos e o fôlego não colaborou nada, nada, pra que houvesse o segundo tempo.
Apesar de ser péssima no futebol, tive grandes lições naquele dia. Duas crianças, tão pequenas e marcadas por uma tragédia. Os dois, a despeito das lembranças daquele fatídico acidente, vão seguir suas vidas normalmente. Vão sorrir, jogar bola, fazer pose pras fotos e correr atrás da Neguinha (não eu, mas a cachorrinha deles).
Por vezes me perguntei pra Deus por que Ele escolheu o dia 16 de setembro pra permitir que aquela tragédia acontecesse. Talvez pra dar um presente lindo de aniversário pro João e pra todos que o amam (a vida dele e da Duda de volta). Ou pra me mostrar que coisas boas podem acontecer nesse dia. “Aprendi que tudo belo Tu fazes em Teu tempo”.
Seja bem-vindo, dia 16. Se veio pra ser bênção, pode chegar.



Duda e João Vítor

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sou feliz com Jesus, meu Senhor

Dia 16 de agosto... São cinco meses já. Hoje eu não quero lágrimas, não quero tristeza...
Se eu não conseguir ser feliz com Jesus, com quem poderei fazê-lo? Já nasceu um novo dia... Posso levantar e viver. Descobri o sorriso de Deus e encontrei motivos pro meu. Afinal, há razões para comemorar... Uma das pessoas que mais amo comemora a vida nesse dia. Justamente o João Neto... Sim, aquele que me deu a pior notícia da minha vida. A boa notícia é que, dessa vez, o amor que sinto por ele vai salvar o dia.
Papai do céu fez algo lindo em meu coração durante a ministração do Fernandinho, no dia 09 de agosto. Em seu último CD, ele gravou uma música linda... “Sou feliz com Jesus, meu Senhor”. A impressão que eu tinha ao ouvi-la era a de que o compositor a criou no auge de sua realização pessoal e em meio à felicidade plena. Me enganei.
Fernandinho contou que o compositor da música teve inspiração para escrevê-la após o naufrágio do navio no qual estavam sua esposa e seus filhos. Após momentos de desespero, em busca de notícias sobre a família, o tal homem conseguiu falar com a esposa. Ao ouvir a voz da amada, o coração dele se aquietou. Até certo momento. Após uma longa pausa, a mulher disse: “eu estou bem, porém sozinha”.
Sim, os filhos, todos eles, haviam morrido no desastre. No auge da dor, quando a alma chorava e faltava ar, o pai de família pegou papel e caneta e conseguiu rabiscar algo...
“Sou feliz com Jesus, meu Senhor”.
No processo de gravação do CD no qual consta a música em questão, Fernandinho recebeu uma notícia triste. Sua irmã, de 34 anos, estava com câncer em estado terminal. Pouco tempo depois ela partiu pra eternidade e lá estava ele repetindo a canção do compositor ferido, porém confiante: “Sou feliz com Jesus, meu Senhor”.
E hoje, a Muriele, há cinco meses sem o pai, a despeito da dor e das dúvidas, abre o coração e sinceramente canta: “Sou feliz com Jesus, meu Senhor”.
                                                                                           
P.s.: O texto abaixo é de um autor desconhecido (pelo menos por mim) e me foi enviado pela minha amiga Claudinha em uma das minhas crises.

Menina, não chore

"Pois somos feitos como poema por Deus, criados em Cristo Jesus para as boas obras, que Deus mesmo nos preparou de antemão para andarmos nelas" (Efésios 2.10).


Cale-se. Hoje eu não quero o dia. Nem as cores, nem a escuridão. Quero ausência do externo. E é tão imenso o desejo da paz que me roubaram que
eu preciso desabafar os gritos de silêncio que me transbordam a alma.
Nem abraços, nem amores, nem um beijo delicado e muito menos um calafrio fogoso.
Não desejo sorrisos, nem lágrimas, nem longas conversas ou segredos desvendados. Eu não quero nada.
Me deixe derramar versos para o nada que persigo hoje, sem razão traçada, sem sentido preciso.
Não quero compreensão nem dúvidas. Cale-se, por favor.
Eu preciso de pelo menos um minuto de poesia pura, de música branda.  De Deus. Preciso de mim, por mim mesma.
Não chore, menina.
Não quero ver as lágrimas no teu rosto tão pueril. Foste criada rocha, foste criada amor. Só não chores... Ainda que doa a alma, que os pés se cansem, que tudo na volta seja escuro d sem paz. Lembre que o coração é criança arisca, serelepe, ingênua. Não o culpes por causar tanta dor, mas entenda que ele é dado a acessos infantis. Apenas acalme a euforia de tua alma, e não deixe as luzes desviarem teu foco.
Tempos atrás eras menina entregue a sorrisos, entre as bonecas dos sonhos, entre as cirandas da infância. Agora, sentes a lágrima rasgar a face, explodir o peito, inflamar os olhos. Nem sequer perdeste a pureza de teu castelo, e já o vês ruir. A vida te puxou pela mão, cirandeando o amor com teu vestido florido sem nem mesmo arrancar a boneca de tuas mãos.
Não chore, menina. Não haverá festas daqui por diante. O bolo enfeitado, o colorido da sala, todos eles fugiram durante teu crescer. Percebas que o mundo já não é mais o teu mundo, e o vento que sopra já não apenas te embala... Ele agora é contrário, ele agora é dor. A chuva, tua amiga de rodopios, tornou-se tempestade, e o sol, teu cavalheiro, agora queima teu chão.
Foste vítima da astúcia do coração. Creste no vão, na fábula. Agora vês que ele é laço sem volta, roubou tuas sandálias, rasgou teus desenhos, calou tuas canções...
Porém, não chores. O coração nunca cresce, é sempre o mesmo. Passa-se o tempo e ele cai nas mesmas ilusões. Cabe a ti, menina crescida, dominar a criança que palpita em teu peito. Não o sacies sempre, ou ele te seduzirá. Não o escutes ainda, ou te fará sentar e com ele projetar cidades. Entenda que ele é sonhador por natureza, é insensato, é vulnerável.
Sei o quanto é complicado calçar o amor quando ainda se tem pés tão pequenos. Por isso te dou minha mão, para que te apóies no teu andar e firme teus passos sem tombos. E creia que existe alguém capaz de sarar as tuas lágrimas.
Ainda que os brigadeiros cessem, há um mundo novo esperando teu colorir. Pegue o papel e escreva um novo caminho, desenhe novas paisagens, sonhe uma nova canção. Entregue teu coração para Aquele que o fez, e Este o acalmará.
E de todas as tempestades que ainda virão, terás paz.
Não chores, menina. Agora és moça, és mulher. Ainda que a dor persista, é preciso levantar. Desabroche o sorriso em meio à dor. Pois estes sorrisos (aqueles dados na tristeza) costumam ser os mais verdadeiros.
Exale o perfume de tua nova existência, cresça as cores de tua alma. Entregue as lágrimas e deixe o coração acalmar. Ele grita, mas depois se aquieta. Todo mundo já chorou por amor, bem-vinda.
“Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos observem os meus caminhos” (Provérbios 23.26).



segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Querido Papai do Céu...

Na impossibilidade de escrever uma carta e enviá-la ao meu pai, por conhecer a Palavra de Deus e saber que não existe método algum através do qual a comunicação entre mortos e vivos seja possível, decidi recorrer ao inventor do coração. Ninguém é tão bom quanto Ele no tocante à compreensão. Ele me entende e, acredito eu, considera válida essa minha forma de expressão. Porque meus sentimentos são válidos... Tudo bem se eu chorar. Mas não é o quero fazer agora. Quero apenas sorrir... Quero cantar o amor de Deus, que quebrou o encanto dos meus desencantos.

Querido Papai do Céu...
Chegou o dia que eu tanto temi... 14 de agosto. Mas não estou escrevendo pra falar sobre minha dor, ou sobre o quanto tem sido difícil lidar com a ausência do meu pai.
Na verdade, quero apenas contar algumas coisas sobre mim... Detalhes bobos mesmo, sabe. Pela fé, sei que meu pai está aí com o Senhor, no descanso. Então, se não for pedir muito, gostaria que dissesse pra ele que estou bem. Nada de deixá-lo triste, por favor. É bom que ele saiba que estou conseguindo...
Desde o dia 16 de março, quando ele se atrasou na volta pra casa e, na verdade acabou chegando mais cedo que o esperado no lar eterno, muitas coisas aconteceram. Diz pra ele que minha mãe vendeu a sorveteria e se mudou pra Rio Verde, com a Lorraininha. Fala que estamos juntas agora e que todo o trabalho que era dele está sendo desempenhado por mim. Fala que eu levo a Lorraininha pra escola e que pra ela isso é um alívio, já que ele dirigia tão vagarosamente e ela considerava um tédio andar com ele. Conta que agora eu mesma calibro os pneus do carro. No início me pareceu muito estranho, mas agora até já me acostumei com os dedos sujos de graxa. Diz que levo minha mãe no supermercado e fico atenta quanto ao vencimento das contas de casa. A propósito, fala sobre nossa nova casa. Diz que é uma gracinha, apesar da estranha sensação de estar faltando alguém.
Não se esqueça de mencionar o nascimento do Otávio (diz “Tiãozim que ele vai se lembrar). O Otávio nasceu no dia 15 de abril, portanto está hoje com quatro meses. É a coisa mais linda do mundo. Branquélo e gorducho, dos olhos verdes. Conta que me responsabilizei em dar de presente a “butina” e o canivete que ele prometeu pro sobrinho e que não vamos permitir que ele torne-se um play boy... Vai ser “pião”, assim como ele esperava. Aaaah, a Évellyn agora é noiva do Pebas, o que significa que ela abandonou definitivamente o “Flavim”. A Vânia tem um rancho muito legal. Conta pra ele que lá tem um riozinho lindo e fogão à lenha. A Lucielle continua solteira, assim como eu.
Sim, tranqüilize-o dizendo que eu ainda sou a encalhada máster da família. Explica que conheci alguns mocinhos e que até me apaixonei, mas, como sempre, não tive coragem nem de começar um relacionamento. Aposto que ele vai rir quando disser isso e que vai dizer: “também, feia desse tanto, quem vai querer?” Tudo bem, sei que no fundo ele acha um máximo eu nunca ter namorado e que sempre fez questão de contar isso pra todo mundo.
Diz pra ele que eu tô cuidando bem da Lorraininha, inclusive sou muito mais severa que ele. Conta que vendemos a biz, porque não permito que ela dirija aqui em Rio Verde. Até tô deixando que ela fique sem internet por um tempo, como castigo (é que ela anda muito mal criada, sabe. Mas não conta isso pra ele, senão vai ficar nervoso). Conta que o Preto se mudou pra Rio Verde também, mas que ele e a Lorraininha não se vêem nunca. De qualquer forma, tô de olho! Fala que minha mãe deu a “relíquia” pro pai dele, e a DT... Bem, da DT eu não sei. Na verdade, não quero saber. Ela não me traz boas lembranças, sabe...
Tem uma coisa chata acontecendo e acho melhor nem contar pra ele... É que ele havia emprestado dinheiro a juros pra tanta gente e as pessoas não respeitam a situação, sabe. Não querem pagar o que devem, desconsiderando o fato de que ele pegou o dinheiro que conseguiu honestamente, trabalhando durante tanto tempo, e cedeu para ajudar os outros, visando um retorno para que pudesse investir nos estudos da Lorrane.  Mas eu vou fazer o que for preciso pra pagar a faculdade dela e vê-la formada, como ele tanto sonhou.
Falando em formatura, conta sobre a minha... Diz que já passei pela primeira banca da monografia e que agora tenho outra, antes da defesa final, que será em novembro. No meio do ano que vem, ele enfim terá a tal da “filha jornalista”. Agora sim, de verdade. Diz que, depois de cinco meses com os sonhos adormecidos, eu decidi que quero mesmo fazer uma pós em Psicologia e que ainda pretendo estudar no IBAD, não sei quando, nem como.
Sobre o tal do “Carlim”, é melhor não dizer nada. Ele não prestou nenhuma solidariedade à nossa família e grita aos quatro cantos que a DT estava sem farolete e que por isso não a viu... Eu sei que isso não é verdade, então é melhor não aborrecer meu pai com essa história, porque ele cuidava tanto daquela moto que vai ficar muito chateado ao ouvir isso. Papai do Céu, tô contando só pro Senhor, viu... O “Carlim” não apareceu nem pra dizer que sente muito e isso me machuca demais. Não o culpamos, claro. Mas gostaríamos que ele se sensibilizasse com o que estamos passando e, no mínimo, parasse de propagar inverdades e se colocar como vítima.
Tudo bem, vamos mudar de assunto. Outra coisa que não quero que diga, pra evitar que ele sofra... A Nick teve um filhotinho e ele foi adotado pelo Flávio. Até aí tudo bem. Mas ele morreu há poucos dias, sabe (acho que ele sentiria a perda como se fosse um neto, então é melhor não tocar no assunto). Pode falar a parte que a Nick tá dodói, mas que está sendo muito bem cuidada e que vai fazer uma cirurgia em breve. A propósito, ela está morando com a tia Ana (o etêzinho do brejo). A Corujinha e o Mudinho ficaram com o seu João. Conta pra ele como o Mudinho tá engraçado, todo sujo, porque agora vive solto, sem disciplina.
Ele vai gostar de saber que não tomo mais açaí (pelo menos até outubro). Se ele não se lembrar do que se trata, diga que é aquela “coisa preta que parece barro”. Ele ficava indignado pelo fato de eu gostar tanto daquele “trem esquisito”.
Dê a ele notícias sobre toda a nossa família. Estão todos bem. O tio Chico voltou pra Goiás e sente muito a falta do amigo Xingu. Aliás, todos sentem. E sentem muito, verdadeiramente. Enfim, manda um abraço em nome da prole, por favor. Falando em prole... Nós vamos pra praia em novembro... Lamento tão profundamente por ele não ter realizado o sonho de conhecer o mar... Diz pra ele que eu vou pra Gramado também. Já que nunca deu certo de ir junto com ele pra Cascavel, agora vou conhecer sozinha o sul do país. Mencione o quanto estou feliz com isso.
Acho que por enquanto é só, Papai do Céu. A qualquer momento escrevo novamente, pra te deixar a par do que está acontecendo na minha vida. Antes de finalizar, quero muito te agradecer por tudo... Principalmente por ter assumido integral paternidade com relação a mim. Obrigada por me fazer sorrir de novo, pela esperança que voltou, pelo amanhecer colorido que vejo agora, pelo amor que não morre e pela sua constante companhia, que me traz segurança e certeza de dias melhores. Eu te amo, Papai do Céu. Te espero paciente e ansiosamente. Não tão ansiosa a ponto de perder a paciência, nem tão paciente a ponto de perder a esperança. Obrigada por ter entendido meus momentos e por ter me aceito exatamente como eu estava... Dilacerada, sem esperança, sem vontade de viver. Obrigada por ter acreditado em mim e por ter esperado o tempo certo para então começar a perfeita restauração na minha vida. Ainda não entendo algumas coisas... Mas aceito tudo quanto o Senhor planejou pra mim. Feliz dia dos Pais!
Quero que diga ao meu pai que também desejo feliz dia dos pais pra ele e que queria muito poder abraçá-lo até a saudade passar. Fala que li na Bíblia que ele me deu no Natal de 2009 que “é preciosa aos olhos do Senhor a morte dos Seus” e que isso acalma meu coração. Mas não explica porque, tá bem? Creio que ele nem sabe o que aconteceu e pode se entristecer ao saber que partiu e causou tanta dor nas pessoas que mais ama. E por falar na Bíblia que ele me deu, diz que o Otávio vai entrar com ela no meu casamento. Pede pra ele ficar tranqüilo, porque o Amigo vai me levar ao altar.


Um beijo nos meus dois Pais, que agora estão mais juntos do que nunca.
Com tão profundo amor...
Muriele.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Um dia depois do dia 16

Algumas coisas mudaram desde o dia 16 de junho, quando postei o último texto no blog, outras permanecem, pelo menos por enquanto, imutáveis.
Minha mãe e minha irmã se mudaram pra Rio Verde e estamos morando juntas agora. O fato de ter minhas referências por perto muda substancialmente a situação. No início, lutei pra racionalizar a dor e resolver tudo quanto fosse necessário. Obtive sucesso até certo ponto e, finalmente, tive que me render às pequenas crises, que aconteceram sem que eu pudesse evitar.
Nós estamos tentando fazer com que as coisas pareçam permanecer em seu devido lugar, dentro da normalidade. Mas espera um pouco... A quem queremos enganar? Está faltando alguém. Estamos procurando nos ocupar o tanto quanto pudermos, sabe. Saímos e chegamos com tanta freqüência que às vezes tenho a impressão de estar de férias em uma casa de praia. Os amigos e familiares procuram não nos deixar sozinhas, mas, evidentemente, há aqueles momentos em que todos precisam voltar pra casa... Nós também. Voltamos pra nossa casa nova, sem identidade, sem que pareça nossa. E, por mais que os móveis sejam outros e visualmente não há vestígios da antiga vida, aquela que tínhamos antes do dia 16 de março, nossa história está aqui dentro do coração e não pode ser esquecida ou apagada. Por isso dói tanto toda vez que me lembro que nunca vou conseguir maquiar a tragédia. A propósito, minha mãe ainda não consegue conjugar os verbos no passado... “Ele gosta, fala, faz, pensa, quer”...
Vamos às atualizações... Estou de férias da faculdade, trabalhando bastante e muito preocupada com o PREX (monografia).  Minha irmã terminou com o namorado, ou não (acho que nem ela sabe ao certo), e eu continuo solteira. Mas fiz um grande progresso. Descobri, ainda em tempo, o motivo pelo qual, aos 21 anos de idade, eu sou analfabeta sentimental por completo. Isso aconteceu depois que fiz outra grande descoberta (essa é segredo)... Posso dizer que tem a ver com um antigo amor. Enfim, agora conheço a raiz do meu problema, o que torna as coisas mais fáceis (ou não).
Julho é mês de exposição agropecuária. Devo dizer que gosto muito da época... E não é só porque pretendo um dia encontrar um “cowboy de Deus”. É claro que não me refiro ao sentido literal do termo, mas não é segredo pra ninguém que sou encantada por uma botina e uma camisa xadrez. Enfim. Fui ao parque de exposições uma única vez esse ano, e a trabalho. Foi justamente na abertura do rodeio que, a propósito, era a diversão preferida do meu pai. Nem preciso dizer que foi um desastre, principalmente na parte da queima de fogos ao som de “Amigos para sempre”. Juro que tentei conter as lágrimas, mas...
Tá. Agora é a parte em que eu falo sobre o dia 16. Tudo bem. Eu quero falar.
A crise, desta vez, foi diferente das demais. Ao invés de ficar substancialmente triste, eu fiquei essencialmente irritada com tudo e todos. Talvez pelo fato de não ter tido muito tempo pra ficar sozinha e chorar como eu precisava. Não sei. Fui ao trabalho e, como acontece todos os dias antes da abertura do programa, Costa Filho me perguntou: “que dia é hoje”? Na defensiva, recebi a pergunta como uma ofensa, mas logo me recompus e entendi que o coitado nem se lembrava que a tragédia havia acontecido nessa data. “Hoje é dia 16, Costa, 16 de julho”. Como de costume nos sábados, fui pra casa depois de apresentar o programa e voltei a dormir. Acordei com um telefonema da Lidi: “Murizinha, sei que dia é hoje e por isso estou ligando pra te dar uma boa notícia! Amanhã a gente vai conhecer a Lílian Teles! Isso não é o máximo?” Sim, incrível. Nunca imaginei que pudesse conhecer minha musa inspiradora (no tocante à história de vida, porque, claro, quero ser como a Sandra Annenberg quando crescer).
Fui almoçar na casa da minha tia e até então as coisas estavam indo bem. Quando de repente, na maior inocência, eu percebi que meu relógio estava marcando dia 15. “Hoje é que dia mesmo?”, pergunto. Uma única palavra fez com que eu me lembrasse de tudo. “16”, minha mãe respondeu. Silêncio total na casa, até que o Lucas resolve contar uma de suas histórias, provavelmente sem entender o que estava acontecendo. No mesmo instante a Claudinha chegou para oferecer seu ombro amigo, prevendo que eu precisaria dele por conta do famoso dia, de comemoração pra ela (aniversário de casamento) e de lembranças ruins pra mim.
O dia transcorreu angustiante. Por vezes tive a sensação de ter acabado de receber a notícia. O choque parecia ser o mesmo, o desespero e a falta de ar também. As imagens que mais marcaram minha vida são pra mim uma tortura... A última vez que vi o rosto dele, a primeira e última vez que lhe beijei a testa...
00:01... Ufa, já era 17 de julho e eu havia sobrevivido. Estávamos eu, minha mãe e minha irmã assistindo filme, sozinhas, do jeito que deveria ser. Foi fácil dormir, devido ao cansaço. O dia seguinte começou bem. Conheci a Lílian Teles, aquela que ficou famosa por conta do Leonardo Pareja, que foi correspondente da Globo em Nova Iorque e que cobriu o terremoto do Haiti. Foi uma experiência incrível, que me fez acreditar na possibilidade de conhecer a Sandra Annenberg e o Evaristo Costa um dia.
17 de julho é uma data muito especial. Aniversário de nove meses do Morada Gospel, meu refúgio nesses tempos difíceis. Como em um período de gestação, o programa tem gerado vida, para a glória de Deus. É claro que a data merece uma comemoração, e foi justamente por isso que lancei a promoção “Gerando uma bênção”. Os ouvintes têm me enviado histórias referentes às bênçãos geradas em suas vidas através do MG... São testemunhos surpreendentes! Ao final da campanha, que seria no dia 17, um participante seria sorteado e teria sua história contada no ar, para edificação da fé dos demais, além, é claro, de ganhar um prêmio especial. Devido à exposição agropecuária e à programação diferenciada da Morada na cobertura do evento, o MG ficou fora do ar por dois domingos, inclusive esse do aniversário, e só voltará no dia 24, quando enfim conheceremos uma linda história contada por um precioso ouvinte. Farei questão de transcrever o testemunho em questão aqui no blog.
Sem o Morada Gospel pra finalizar minhas noites de domingo, o que me resta é escrever. São 23:10 agora e o sentimento que tenho é o de gratidão a Deus. Sua misericórdia, que se renova todos os dias, é o motivo pelo qual eu ainda não fui (e nem serei) consumida.
“Mesmo que eu não mereça, Tu permaneces assim... Fiel, Senhor meu Deus, fiel a mim”.
“A espera (por dias melhores [grifo meu]) não pode matar a esperança”.