segunda-feira, 18 de julho de 2011

Um dia depois do dia 16

Algumas coisas mudaram desde o dia 16 de junho, quando postei o último texto no blog, outras permanecem, pelo menos por enquanto, imutáveis.
Minha mãe e minha irmã se mudaram pra Rio Verde e estamos morando juntas agora. O fato de ter minhas referências por perto muda substancialmente a situação. No início, lutei pra racionalizar a dor e resolver tudo quanto fosse necessário. Obtive sucesso até certo ponto e, finalmente, tive que me render às pequenas crises, que aconteceram sem que eu pudesse evitar.
Nós estamos tentando fazer com que as coisas pareçam permanecer em seu devido lugar, dentro da normalidade. Mas espera um pouco... A quem queremos enganar? Está faltando alguém. Estamos procurando nos ocupar o tanto quanto pudermos, sabe. Saímos e chegamos com tanta freqüência que às vezes tenho a impressão de estar de férias em uma casa de praia. Os amigos e familiares procuram não nos deixar sozinhas, mas, evidentemente, há aqueles momentos em que todos precisam voltar pra casa... Nós também. Voltamos pra nossa casa nova, sem identidade, sem que pareça nossa. E, por mais que os móveis sejam outros e visualmente não há vestígios da antiga vida, aquela que tínhamos antes do dia 16 de março, nossa história está aqui dentro do coração e não pode ser esquecida ou apagada. Por isso dói tanto toda vez que me lembro que nunca vou conseguir maquiar a tragédia. A propósito, minha mãe ainda não consegue conjugar os verbos no passado... “Ele gosta, fala, faz, pensa, quer”...
Vamos às atualizações... Estou de férias da faculdade, trabalhando bastante e muito preocupada com o PREX (monografia).  Minha irmã terminou com o namorado, ou não (acho que nem ela sabe ao certo), e eu continuo solteira. Mas fiz um grande progresso. Descobri, ainda em tempo, o motivo pelo qual, aos 21 anos de idade, eu sou analfabeta sentimental por completo. Isso aconteceu depois que fiz outra grande descoberta (essa é segredo)... Posso dizer que tem a ver com um antigo amor. Enfim, agora conheço a raiz do meu problema, o que torna as coisas mais fáceis (ou não).
Julho é mês de exposição agropecuária. Devo dizer que gosto muito da época... E não é só porque pretendo um dia encontrar um “cowboy de Deus”. É claro que não me refiro ao sentido literal do termo, mas não é segredo pra ninguém que sou encantada por uma botina e uma camisa xadrez. Enfim. Fui ao parque de exposições uma única vez esse ano, e a trabalho. Foi justamente na abertura do rodeio que, a propósito, era a diversão preferida do meu pai. Nem preciso dizer que foi um desastre, principalmente na parte da queima de fogos ao som de “Amigos para sempre”. Juro que tentei conter as lágrimas, mas...
Tá. Agora é a parte em que eu falo sobre o dia 16. Tudo bem. Eu quero falar.
A crise, desta vez, foi diferente das demais. Ao invés de ficar substancialmente triste, eu fiquei essencialmente irritada com tudo e todos. Talvez pelo fato de não ter tido muito tempo pra ficar sozinha e chorar como eu precisava. Não sei. Fui ao trabalho e, como acontece todos os dias antes da abertura do programa, Costa Filho me perguntou: “que dia é hoje”? Na defensiva, recebi a pergunta como uma ofensa, mas logo me recompus e entendi que o coitado nem se lembrava que a tragédia havia acontecido nessa data. “Hoje é dia 16, Costa, 16 de julho”. Como de costume nos sábados, fui pra casa depois de apresentar o programa e voltei a dormir. Acordei com um telefonema da Lidi: “Murizinha, sei que dia é hoje e por isso estou ligando pra te dar uma boa notícia! Amanhã a gente vai conhecer a Lílian Teles! Isso não é o máximo?” Sim, incrível. Nunca imaginei que pudesse conhecer minha musa inspiradora (no tocante à história de vida, porque, claro, quero ser como a Sandra Annenberg quando crescer).
Fui almoçar na casa da minha tia e até então as coisas estavam indo bem. Quando de repente, na maior inocência, eu percebi que meu relógio estava marcando dia 15. “Hoje é que dia mesmo?”, pergunto. Uma única palavra fez com que eu me lembrasse de tudo. “16”, minha mãe respondeu. Silêncio total na casa, até que o Lucas resolve contar uma de suas histórias, provavelmente sem entender o que estava acontecendo. No mesmo instante a Claudinha chegou para oferecer seu ombro amigo, prevendo que eu precisaria dele por conta do famoso dia, de comemoração pra ela (aniversário de casamento) e de lembranças ruins pra mim.
O dia transcorreu angustiante. Por vezes tive a sensação de ter acabado de receber a notícia. O choque parecia ser o mesmo, o desespero e a falta de ar também. As imagens que mais marcaram minha vida são pra mim uma tortura... A última vez que vi o rosto dele, a primeira e última vez que lhe beijei a testa...
00:01... Ufa, já era 17 de julho e eu havia sobrevivido. Estávamos eu, minha mãe e minha irmã assistindo filme, sozinhas, do jeito que deveria ser. Foi fácil dormir, devido ao cansaço. O dia seguinte começou bem. Conheci a Lílian Teles, aquela que ficou famosa por conta do Leonardo Pareja, que foi correspondente da Globo em Nova Iorque e que cobriu o terremoto do Haiti. Foi uma experiência incrível, que me fez acreditar na possibilidade de conhecer a Sandra Annenberg e o Evaristo Costa um dia.
17 de julho é uma data muito especial. Aniversário de nove meses do Morada Gospel, meu refúgio nesses tempos difíceis. Como em um período de gestação, o programa tem gerado vida, para a glória de Deus. É claro que a data merece uma comemoração, e foi justamente por isso que lancei a promoção “Gerando uma bênção”. Os ouvintes têm me enviado histórias referentes às bênçãos geradas em suas vidas através do MG... São testemunhos surpreendentes! Ao final da campanha, que seria no dia 17, um participante seria sorteado e teria sua história contada no ar, para edificação da fé dos demais, além, é claro, de ganhar um prêmio especial. Devido à exposição agropecuária e à programação diferenciada da Morada na cobertura do evento, o MG ficou fora do ar por dois domingos, inclusive esse do aniversário, e só voltará no dia 24, quando enfim conheceremos uma linda história contada por um precioso ouvinte. Farei questão de transcrever o testemunho em questão aqui no blog.
Sem o Morada Gospel pra finalizar minhas noites de domingo, o que me resta é escrever. São 23:10 agora e o sentimento que tenho é o de gratidão a Deus. Sua misericórdia, que se renova todos os dias, é o motivo pelo qual eu ainda não fui (e nem serei) consumida.
“Mesmo que eu não mereça, Tu permaneces assim... Fiel, Senhor meu Deus, fiel a mim”.
“A espera (por dias melhores [grifo meu]) não pode matar a esperança”.