domingo, 22 de janeiro de 2012

Aqui não, coração!



A última data possível a me atingir em 2011 era a virada do ano. A fatídica última semana de dezembro tornou as coisas mais difíceis, mas aprendi que os dias ruins fazem os bons ficarem ainda melhores. Sem contar que, a essa altura do campeonato, otimismo pra mim era sanidade. Ou eu acreditava que dias melhores viriam e esperava pacientemente por eles, ou desistia de tudo e me entregava ao desespero. É claro que escolhi a primeira opção.

Entendi que eu precisava descobrir o que queria e depois deveria aprender a pedir. Concentrei-me nisso e descobri que queria a melhor virada do ano da minha vida, contrariando as estatísticas. Então decidi que não faria nada pelas metades, porque não queria ser meio feliz. Daí começou a saga para superar a última noite de 31 de dezembro, que foi a pior da minha história, com toda certeza. Engraçado... Parece cômico e até místico, mas é como se eu estivesse sentindo que o ano de 2011 iria dilacerar tudo em mim.

Minha família foi pra Acreúna e, após pensar muito a respeito, decidi que ficar em Rio Verde, na minha igreja, seria a melhor alternativa. Último dia do ano, sábado... Como de costume, saí do trabalho às 08 da manhã e voltei a dormir (ou tentei fazê-lo), porque um vizinho logo me despertou. Acordei ao som de “Jerusalém, eu andarei por ruas de ouro, eu caminharei junto aos anjos de Deus”. Tudo bem que a música é linda e bastante sugestiva para meu pedido de ano novo, mas quem me conhece sabe o quanto fico mal humorada quando não posso dormir. Lutei contra o som ensurdecedor até quando pude, daí me dei por vencida e fui assistir TV (coisa que raramente faço, a não ser no sábado, quando gosto de ver os calouros do Raul Gil; além, claro, dos meus telejornais favoritos).

“Tudo bem, Deus... Quero ter uma virada do ano feliz e acho que dormir seria um ótimo começo, mas se o Senhor (ou o vizinho) não quer... O que temos pra hoje”? Foi quando me deparei com o Pastor Samuel (Assembléia de Deus do Braz), em uma ministração simples e objetiva que me fez entender o motivo por não conseguir tirar meu sono da beleza. Eu precisava ouvir aquilo. Precisava muito.

O Pastor afirmou que daria 12 conselhos para 2012, esclarecendo que não se tratava de um manual da felicidade nem de autoajuda. Eram conselhos, literalmente, que poderiam ser seguidos, ou não. Eu disse SIM já ao primeiro conselho e decidi que este regeria minha vida no ano que estava prestes a se iniciar... “Guarde o seu coração”, o Pastor disse repetidas vezes. “Não aceite que ele seja depósito de tristeza”. Nem preciso dizer o quanto chorei. A Palavra do Senhor nos faz um alerta importante: “Sobre tudo o que deve guardar, guarde o seu coração, porque dele procede a fonte da vida”. Aprendi uma técnica incrível, que mais tarde, naquele mesmo dia, seria testada a ferro e fogo. “Quando algo ruim lhe suceder e a tristeza procurar uma brecha pra se instalar, bata forte no peito e diga: ‘aqui não, coração, você está guardado’”!

Aqui estão os conselhos, a começar do primeiro, sobre o coração: 



1º: Guarde o seu coração.

2º: Afaste de sua boca as palavras perversas, porque há poder na palavra.

3º: Seja rápido para perdoar e reconhecer suas falhas, mas demorado para ficar ofendido.

4º: Aproveite as experiências de 2011. Reflita e não erre nas mesmas coisas em 2012.

5º: Olhe para frente. Pra quê carregar lembranças ruins? O segredo dos que triunfam é sempre recomeçar.

6º: Não seja invejoso. Aprenda a dormir e ter seus sonhos.

7º: Aprecie a vida, porque ela é linda.

8º: Pense em coisas boas.

9º: Valorize seus relacionamentos.

10º: Aceite a vontade de Deus. Nós enxergamos até a curva, e Ele, depois da estrada.

11º: Confie em Deus acima de tudo.

12º: Aceite os desafios de Deus.



Sobre as experiências de 2011, em particular, uma das maiores lições que tive foi quanto à amizade. Aprendi, da forma mais dolorosa e traumática possível, que amor e perdão são incondicionais, mas que a continuidade do relacionamento, definitivamente, não é. Pelo contrário... Existem muitas condições, muitos limites a serem respeitados. Eu só desejo ter sempre a quem amar e, que quando estiver bem cansada, exista amor para recomeçar. Nada além disso. Nada de cobrança, nada de acusação.

Pois bem. Depois de ouvir Papai do céu falar comigo através do Pastor Samuel, o Ministério Voz da Verdade colaborou para a construção de um dia inesquecível. “Eis que farei uma coisa nova... Caminho no deserto”. Esses trechos do versículo citado se eternizaram no meu coração. Eu precisava crer nisso. Havia esperança e promessa de um novo tempo, claro que havia. Eu profetizei sobre minha vida, dizendo que 2012 seria um ano de novidades, não aquelas previstas, como minha formatura, mas surpresas de fato. Eu creio!

Lá estava eu, almoçando batata e coca-cola (convenhamos que não é legal cozinhar pra uma só pessoa, ainda mais se considerarmos o péssimo gosto da minha comida). Como de costume, aproveitei o momento de solidão pra ouvir música e limpar minha casa, enquanto fazia uma espécie de faxina no coração, simultaneamente.

Fui fazer as unhas e, na volta pra casa, tive a oportunidade de colocar em prática o primeiro conselho que recebi pela manhã (sobre guardar o coração). Deparei-me com um rapaz bêbado, todo sujo, que falava pra si mesmo algo que de início não consegui entender. Eu e minhas histórias com bêbados, meu Deus. Ao me aproximar, compreendi as palavras que saíam desordenadas: “Eu prometo que não vou acreditar que meu pai fez isso comigo”. Pensei se tratar de uma briga familiar, mas não. “Logo hoje, logo no dia do feriado, que é um dia feliz”. Comecei a me preocupar. “Por que ele tinha que fazer isso? Logo de moto? Por que não foi de caminhão, pra bater e acabar com tudo de uma vez. De moto não, cara, de moto não”. Eu fiquei sem ar.

Por que meu pai fez isso comigo? De moto não, cara, de moto não. Inconscientemente, comecei a chorar na rua e pensei que a chance de ter a melhor virada do ano da minha vida acabava ali, mas Deus tem seus caminhos... Ao colocar a chave na porta de casa, eu despertei com um choque. “Aqui não, coração, você está guardado”. Bati no peito repetidas vezes, com a força que encontrei, e disse que não iria permitir que a tristeza se infiltrasse no meu dia, no meu ano, na minha vida. Juro que funcionou. Fui tomada por uma alegria impressionante enquanto falava com Deus por alguns minutos antes de ir pra igreja. Aproveitei para renovar propósitos, fazer outros, ministrar toda sorte de bênçãos sobre minha família, minha casa, tudo o que é nosso. Foi lindo.

O culto teve sua especial participação no projeto de Deus para o último dia do pior ano da minha vida. Nenhuma palavra proferida foi de particular revelação, mas era como se fosse. Uma música, especialmente, embalou a minha retrospectiva de 2011. Na verdade, fiz rapidamente um apanhado de alguns anos anteriores. Ao som de “Palavras”, me lembrei de uma época muito feliz, em Acreúna. Me veio à caixa das lembranças a Lucielle cantando na igreja, a gente saindo depois do culto e depois voltando pra casa, podendo dormir com a certeza de que minha família estava completa. “Ainda que pra Te servir, Jesus, eu tenha que chorar... Te servirei, porque comigo estarás. Sofrer Contigo é bem melhor do que errar”. A última Santa Ceia de 2011 e primeira de 2012 anunciou que o ano novo seria melhor, porque eu tinha o que pode haver de mais precioso nessa vida: comunhão com Deus.

Joelho no chão pra esperar 2012. Os primeiros instantes do ano foram inesquecíveis. Lá estava eu, abraçada a uma garota até então desconhecida, que, naquela noite memorável, em meio às lágrimas, decidiu entregar sua vida a Jesus. Mais tarde descobri que ela era ouvinte assídua do Morada Gospel, o que me fez sentir por ela particular amor e desejo de cuidado. De repente percebi que meu pedido havia sido atendido. Foi a melhor virada do ano da minha vida.

Depois do culto, começou a nossa saga em busca de um lugar pra comer na cidade deserta. Encontramos a Subway aberta... Melhor impossível! Dormi na casa da Claudinha e, o dia seguinte (ou mesmo dia, considerando a hora em que fomos dormir), primeiro do ano, foi marcado por um diálogo saudável e libertador, que me trouxe cura e alívio para a alma. Como é bom amar essa minha amiga! Pra terminar muito bem o que começou de igual modo, o Morada Gospel especial de ano novo marcou minha vida, com toda certeza.

E por falar em marca... “Não entendo o Teu modo de agir quando trazes à minha memória dores, marcas, histórias que estão bem vivas em mim”. Eis aqui algumas delas:



Em 2011:

Perdi meu pai, e com ele a intensidade do meu sorriso, além de seis quilos.

Ganhei o Otávio, o pequeno grande homem que mudou minha perspectiva sobre a vida.

Aprendi que não devo confiar em pessoas que se autoafirmam, se justificam o tempo todo e são invasivas demais.

Mudei de casa e o corte do cabelo (duas vezes).

Beijei o, o, o... Esquece.

Esqueci o aniversário do meu melhor amigo e senti uma terrível culpa por isso.

Experimentei chopp de vinho e gostei (não, eu não sou alcoólatra, nem abandonei a fé).

Terminei meu TCC.

Chorei pela ausência do meu pai, por ver minha irmã se esforçando pra demonstrar força e pela idéia de não conseguir fazer minha mãe feliz.

Fui para o Guarujá com minha família.

Voltei de Gramado apaixonada e com vontade de conhecer a Europa.

Superei o pior ano da minha vida, mas, infelizmente, as lembranças ruins não foram embora com ele.


Em 2012 quero:

Perder o medo de tentar.

Ganhar meus seis quilos de volta, uma Dudalina, um vidrão de palmito, um ar-condicionado e um tablet. Só.

Aprender a reconhecer o “amor sequestrador” há quilômetros de distância e fugir dele, definitivamente.

Mudar para nossa casa nova, aquela que vamos comprar, pela fé.

Beijar o homem da minha vida.

Esquecer o mal que me fizeram em 2011. Aliás, quero esquecer 80% desse ano lamentável.

Experimentar dizer “não” mais vezes.

Terminar meu curso e me tornar uma legítima jornaleira.

Chorar de felicidade no dia da minha formatura.

Ir para a França, Inglaterra e Holanda.

Voltar do exterior cheia de histórias incríveis pra contar.

Superar os traumas que malfeitores semearam em meu coração no ano que passou.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Eu digo NÃO ao amor sequestrador!



A última semana de dezembro foi a pior do ano em termos de dor física. Troquei os dias pelas noites, literalmente, e minha mãe sofreu tanto quanto eu, porque passou noites em claro ao meu lado, tentando aliviar minha dor com suas massagens nada profissionais, porém apaziguadoras. Acontece que sofro de um mal chamado espondilose cervival, um tipo de osteoartrite que causa dores intensas nos ombros, braços e pescoço.
Nunca ninguém me compreendeu tão bem quanto Melanie Thernstrom, no livro “As crônicas da dor – tratamentos, mitos, mistérios, testemunhos e a ciência do sofrimento”. Faço das palavras da autora as minhas: “A dor começou a impor o seu domínio sobre o meu mundo. Não era como uma intrusa violenta que entra à força, quebra tudo e vai embora. Era mais como uma parceira doméstica azeda, íntima e feia; uma presença ameaçadora, suja, perturbadora, mas que se recusava a ir embora. Eu não gostava de acordar e sentir as suas mãos grudentas em mim; não gostava que ficasse pela cozinha, me fazendo derrubar pratos pesados; não gostava que interrompesse meus telefonemas, especialmente quando uma amiga confidenciava uma tristeza que eu me preocupava em escutar. Eu me preocupava, mas não como antes, porque agora parte de mim só se preocupava com a dor. ‘O meu pescoço dói’, era o que me segurava para não dizer, queixosa, quando as minhas amigas discutiam casamentos e abortos. ‘O meu braço dói’”.
Além do incômodo da dor, cobranças, acusações e o tal do “amor sequestrador” fizeram desses últimos dias do ano os piores possíveis. A guerra que acontecia dentro de mim não me deixava dormir. Certa de que o coração é o árbitro das decisões, me calei o máximo que pude pra poder ouvi-lo. E ele me disse o que fazer...
Antes de qualquer coisa, eu sabia que tinha o poder de entrar na vida de alguém e dar a essa pessoa a coragem de ser. Isso significa que poderia estender a mão da reconciliação a alguém que afastei, fazer uma ligação para alguém com quem tive um conflito ou para um familiar com quem não falava há muito tempo. Dessa forma, a cura passa a ser a oportunidade de transmitir a outro ser humano o que recebi do Senhor Jesus; a saber, Sua aceitação incondicional de mim mesma como sou, não como deveria ser.
Ele me ama, seja em estado de graça, seja de desgraça, quer eu viva de acordo com as expectativas elevadas de Seu Evangelho, quer não. Ele vem a mim onde vivo e ama-me como sou. Sempre que transmiti essa mesma realidade à outra pessoa, o resultado foi a cura interior dessa pessoa por meio do toque da minha afirmação. Afirmar uma pessoa é enxergar o bem que há nela, o qual ela mesma não consegue enxergar, e repetir isso apesar das aparências em contrário. Quando uma pessoa é despertada para aquilo que ela é e não para aquilo deixou de ser, o resultado mais frequente é a cura do coração. Como bem disse Brennan Manning, a pergunta não é se podemos curar, e sim, se deixaremos que o poder curador de Jesus flua por intermédio de nós para alcançarmos e tocarmos outras pessoas, de modo que elas possam resistir, lutar e sonhar, correndo para onde nem os corajosos ousam ir.
Eu me autoafirmo como “médica ferida”. Portanto, é meu dever oferecer a cura. Mas até quando o já banalizado “amor cristão” me obriga a agir além das minhas possibilidades? Até que ponto é saudável e biblicamente correto eu me anular em benefício do outro? Aprendi, em meio a esse conflito, que o perdão e o amor são incondicionais, mas a continuidade de um relacionamento, definitivamente, não. O amor que envolve compromisso e amizade eu posso escolher a quem dar, sem culpa e sem medo.
Para reafirmar o que o próprio Deus já havia ministrado ao meu coração, uma linda amiga, usada por Ele, fez chegar até mim um texto que mudou minha vida. Trata-se do posicionamento de Caio Fábio a respeito desse “amor” exigente e acusador.
Segue o texto:



Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas?

Certas frases soam tão bem que parecem até ser verdade. Uma delas é essa frase de “Miss Universo” recitada do livro “O Pequeno Príncipe”.
Nunca vi uma receita de doença ser escrita com tanta beleza e aparência de verdade! De fato, estou escrevendo isto apenas porque hoje recebi alguns e-mails de gente me dizendo basicamente o seguinte: “Puxa, mandei uma carta pra você fazendo perguntas e abrindo o coração, e você nunca me responde. Continuo amando você apesar disso. Mas quero que você saiba que me cativou. Por isso, quero resposta. Me responda, porque eu amo você”.
Todo mundo gosta de ser amado, mas eu já tive mil vidas de amor por mim que quase me mataram. Sim, pode-se ser vitimado e morto por esse tipo de amor “Pequeno Príncipe”.
Só Deus sabe as centenas de viagens que não podia fazer, mas fiz. Tudo por causa do sequestro do “amor”.  Só Deus sabe quanta coisa minha, pessoal, essencial, e de profunda significação, deixei de fazer, apenas porque estava sequestrado por esse tipo de amor que ama convenientemente, transferindo responsabilidades para você. Não, meus amigos! Não estou mais sequestrado pelo amor dos que barganham!
Esse tal amor é barganha infantil e profundamente sequestradora. E tem gente que só ama assim: em troca de alguma coisa — preferencialmente em troca de você, de sua alma. Esse amor, hoje em dia, eu o discirno de bem longe. Não me diz mais nada. Enfartei dele! Esse amor é amor de vampiro!
Tal amor é doença e gera co-dependência. Você fica sequestrado pelo outro, sendo que o outro obriga você a ser dele sem que você possa ser, posto que nunca pediu para ser, muito menos para ser daquele modo e com aquelas cobranças. É como ir andando na rua, ser achado bonito, e, em razão disso, ter que ceder a todas as cantadas. Afinal, você cativou pessoas, e, supostamente, não se pode deixar de aceitar responsabilidades por ter gerado algo tão divino nos outros.
Tudo bobagem! Narcisismo bondoso, porém, ainda, narcisismo! Eu, todavia, já fui vítima disso, e sei que quando você se arrebenta contra a penha da existência, os seus “amantes cativados” acusam você de os haver traído.
Ah, quantos amigos desses eu tive! E onde andam? Cobravam-me presença, atenção, responsabilidades, se diziam irremediavelmente meus discípulos, culpavam-me de os haver convertido e de os haver apresentado um Evangelho tão belo, de tal modo que ou eu os atendia ou tinha que viver com a acusação desses amantes cativados. Fiz tudo para agradar a milhares e milhões de amantes fraternos!
 “A minha vida, ninguém a tira de mim; eu espontaneamente a dou”... — ensinou-me, na prática, o Senhor. Assim, meus amigos, escaldado e livre, esse gato já não tem donos terrenos que pelo “amor de vampiro” o possam impressionar. Antes, eles tiravam de mim. Hoje, meus queridos, eu dou!
Faço só o que posso, e não estou num concurso de amor fraterno. Podem amar a quem desejarem. Fico feliz quando vejo as pessoas amando, não sinto ciúmes de ninguém que seja mais amado do que eu.
No entanto, saibam todos: o Bom Pastor, que conhece todas as ovelhas e que pode cuidar de todas: só há um: JESUS! Ele é o Único Pastor porque somente Ele pode cuidar de todas as ovelhas. E mais: somente Ele pôde dar a própria vida e depois reavê-la. Esse mandato, todavia, eu não recebi de meu Pai. Eu — meu Deus! — mal dou conta de meu dia!
Assim, amigos, me escrevam. Deus sabe como faço tudo isto aqui com todo amor. No entanto, saibam: eu não estou sequestrado pelas afirmações do amor de ninguém por mim. Sou responsável por tudo aquilo que eu puder ser, mas não sirvo às neuroses da falsa bondade. Eu me amo o suficiente para não me deixar mais sequestrar pelo amor barganhante de ninguém.
E mais: minhas prioridades, essas eu decido. Nunca mais pretendo deixar que ameaças de amizades forcem o curso de meu caminho. Afinal, meus amigos, eu também amo, e, também, escolho dar amor a quem quero — pelo menos esse amor que envolve amizade e compromisso. E como sou apenas um, posso apenas aquilo que um único um pode. Quem puder mais do que eu, não me cobre; por favor, me ajude! (Caio Fábio).

Feliz aniversário, Jesus!

Maravilhada com o “espírito natalino” desde sempre, eu nunca havia percebido que a história se repete todos os anos. As pessoas se tornam potencialmente mais humanas, doando mantimentos, brinquedos e tempo para os menos favorecidos. O mercantilismo barato (caro) que acompanha a época em questão cria no inconsciente dos consumidores enlouquecidos a idéia de que presente e Natal não podem andar separadamente. O super aquecimento do mercado faz com que as ruas comerciais da cidade fiquem abarrotadas de formigas encarrilhando caixas coloridas. São as mesmas músicas, mesmas emoções, mesmas palavras.
Os enfeites coloridos e as luzes se espalham por todos os lados. Onde é possível, pendura-se pisca-pisca, lâmpadas e cordões reluzentes, para dar um brilho a mais ao Natal. A caprichada decoração transforma ruas escuras em cenários deslumbrantes. Mas depois de passado o mês de dezembro, as luzes são apagadas e guardadas para o próximo ano, o que significa que toda aquela luminosidade era temporária, incapaz de fixar residência em algum lugar.
O meu Natal de 2011 precisava de mais do que pisca-piscas ocasionais. Eu precisava de uma luz verdadeira e eterna, que me ajudasse a ultrapassar a escuridão que me conduzia à tristeza. Então me lembrei do que Jesus disse de Si mesmo: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, pelo contrário, terá a luz da vida”. Eu tinha (tenho) Jesus, por isso minha luz não ia se apagar depois da festa. Eu reconheci, em meio às comemorações, a voz do anjo que declara que o Seu nome seria Jesus porque “Ele salvará o Seu povo dos seus pecados”. Sabe onde li isso? Na minha Bíblia linda, que ganhei do meu pai justamente no Natal, mas de 2010. Foi o melhor presente que recebi, sem demagogia. Só eu sei o quanto foi significativo ganhar dele um abraço de “feliz Natal” acompanhado pela Palavra de Deus transliterada em um livro. Na ocasião, dei a ele um vinho, que era uma de suas paixões. “Você me ensinando o caminho e eu te desvirtuando com esse presente”! Ele riu.
Lembro-me do último Natal antes da tragédia... Na verdade, não passamos juntos. Essa lembrança já me causou dor, mas aprendi que não posso ser tão dura comigo. Desde que a mãe dele faleceu, em 2003, muitas mudanças aconteceram. Datas assim tão familiares, como Natal e dia das mães, já não tinham o mesmo significado. Ele se escondia, na impossibilidade de expressar a dor que sentia pela ausência de sua diva. Mesmo com a nossa insistência para que ele se juntasse à família na noite de Natal, a tristeza se unia à teimosia e ele permanecia irredutível, sozinho em casa. Foi assim no ano passado. Hoje me pergunto por que eu, minha mãe e minha irmã não abrimos mão da festa da família e ficamos ali com ele. Acho que essa pergunta é irracional demais. Se a história fosse outra, se fosse outra pessoa da minha família que tivesse partido pra eternidade e se eu tivesse perdido a chance de passarmos o último Natal juntas, eu me perguntaria por que fiquei em casa com meu pai e não fui à festa. Então, decidi não me prender ao que poderia ter feito, e sim ao que fiz. Eu sei o que fiz. Deus sabe o que fiz.
O problema maior é o já banalizado pedido de Natal. No ano passado, pedi para que o meu pai estivesse lá conosco no próximo ano, além de pedir para que o momento que estávamos enfrentando, até então o mais doloroso de nossas vidas, fosse superado sem maiores transtornos. Sim, a tempestade em questão passou; porém, meu pai mais uma vez não foi à festa de Natal. A diferença é que não o encontramos ao voltar pra casa.
Caiu por terra o discurso de “enfrentamos dificuldades esse ano, mas o importante é que estamos todos vivos e com saúde”. Foi o Natal mais triste da minha vida e, ao olhar pra minha família reunida ali, os pais com os filhos e até netos, me perguntei várias vezes o porquê de justamente a minha casa ter ficado menor. Outra pergunta irracional, claro. A hora da foto foi uma tortura só... Enquanto que alguns dos meus tios se apertavam em um abraço coletivo com o cônjuge e os filhos, a fim de todos serem alcançados pela lente da câmera, a nossa foto foi quase deprimente... Eu, minha mãe, minha irmã e uma ausência enorme do lado. Ainda bem que a Naná se juntou a nós e tornou o momento menos trágico.
Mas espera um instante! A despeito de como eu me sentia, havia um motivo para estar ali, e olha que não estou me referindo à revelação do amigo secreto nem às guloseimas de Natal. Claro! Era o aniversário do meu amigo Jesus! Como não pensei nisso antes!? Ele deveria estar, no mínimo, triste por eu tê-Lo ignorado de forma tamanha. Acontece que, infelizmente, o ser humano tem a tendência de dar ênfase ao que perdeu, em detrimento do que possui. E eu tinha/ tenho muito: o Rei dos reis me chama pelo nome, conhece minhas preferências, virtudes e defeitos.
Tudo bem que Jesus não nasceu em dezembro. Nem poderia, teologicamente falando. Mas o cerne da questão é que Ele nasceu, e o fez por mim, em particular. É claro que tal demonstração altruísta e abnegada de amor merece comemoração. Cantei “parabéns” bem baixinho pro aniversariante e entreguei o presente que  havia levado comigo. Na hora do “com quem será que Jesus vai casar” não restava dúvida... “Vai depender, vai depender, vai depender se Sua noiva (da qual eu faço parte) vai querer”. Sim, Jesus, eu aceito. Está tudo preparado para o grande dia. Te espero ansiosa, mas não a ponto de perder a esperança; nem tão esperançosa a ponto de perder a ansiedade.





Mãe e irmãs. "Diga ainda que a gente conseguiu sobreviver à dor e Deus mandou a chuva".

Aba, pertenço a Ti

ABA significa literalmente “pai, papai, querido pai”. Dessa forma, podemos nos dirigir ao Deus infinito, transcendente e todo-poderoso com a intimidade, a familiaridade e a confiança inabalável que uma criança experimenta no colo de seu pai. Sou feliz em saber que o amor do meu Aba não depende do meu esforço e não se altera de acordo com o meu desempenho.
Se Charles deFoucauld tivesse a oportunidade de me conhecer, certamente não conseguiria esconder a decepção. Para ele, a única coisa que devemos absolutamente a Deus é nunca ter medo de nada. E eu tenho. Rapidamente, passei do estágio de aversão a sapos, lugares fechados e sangue para o desenfreado pavor com relação à morte, não a minha, mas a de pessoas que amo. Minha vida é antes e depois de 2011. O foco saiu de mim. Nunca mais bato a porta e vou... Tenho medo do momento de voltar a ser só eu.
Como lidar com o medo é o que me diferencia de algumas pessoas que decidem se afogar em sua autocomiseração. Eu não sou vítima. Talvez já tenha sido por muitos e muitos anos, embora não tivesse consciência disso. Enfim... O medo, por mais intenso que pudesse parecer, ainda não conseguiu me paralisar. Eu vou continuar, porque escolhi me orgulhar das minhas fraquezas, já que elas demonstram o poder de Cristo, que é atuante em minha vida.
Eu tive medo do mês de dezembro e tentei menosprezá-lo, mas isso não fez com que ele não chegasse, todo sorridente, cantarolando uma música de Natal (o que prova que os fatos não deixam de existir simplesmente por serem ignorados).  Dia primeiro... Consegui decepcionar duas pessoas que tanto confiam em mim: Deus e eu mesma. Eu errei, o que não é nenhuma novidade. O âmago da questão está no que fiz com o erro. Aprendi com ele, cresci, fui perdoada por Deus e me perdoei. Entendi que o cristianismo não consiste primeiramente no que faço pra Deus... Tudo começa com o que Ele fez por mim. O Reino que Jesus proclamou é bem mais que pessoas que vão à igreja aos domingos, lêem a Bíblia de vez em quando, fazem um retiro espiritual por ano, opõem-se vigorosamente ao aborto, não assistem filmes pornográficos, jamais fazem uso de palavras chulas e se dão bem com todos. Na verdade, o Evangelho é absurdo, e a vida de Jesus é totalmente sem sentido a menos que acreditemos que Ele viveu, morreu e ressurgiu com apenas uma finalidade em mente: mostrar-nos Seu amor. Ele não espera que tenhamos uma moral aperfeiçoada tão somente, mas sim, que sejamos cheios de amor (por ELE, por nós mesmos e pelos outros), que sejamos leais à Palavra, que desejemos chegar ao Seu próprio coração, que sejamos atraídos pela chama que consome, purifica e atribui a tudo ardente paz, alegria, ousadia e amor extraordinário, furioso.
O amor de Cristo ultrapassa o conhecimento. Precisamos abrir mão de nossas percepções humanas, legalistas, tradicionalistas, circuncidadas, empobrecidas de Deus e nos abrir para o Pai de Jesus, que também é nosso. Se o fizermos, a promessa é que seremos cheios da plenitude de Deus. E foi exatamente isso que aconteceu... Lancei-me nos braços de amor do meu Pai. Ele me abraçou, me perdoou (mesmo sem merecer), e me fez viver dias de plenitude verdadeira. Entre os dias 03 e 10 de dezembro, tive a sensação de que nada me faltava. Nunca estive tão bem (espiritualmente), tão íntima de Deus, tão feliz com Ele, por Ele e para Ele. Os problemas continuaram, as circunstâncias negativas eram as mesmas, mas a mudança aconteceu aqui dentro de mim, sem grandes alardes, sem que ninguém percebesse. Eu estava me sentindo realizada, e isso me bastava por ora.
Tudo começou com o Louvor Solidário da Catedral da Família, igreja que sempre fez questão de marcar positivamente minha vida. Durante o culto, a Palavra que ouvi reafirmou o sentimento de perdão que enchia meu peito: Deus me ama e Seu amor é muito grande e incondicional. Lembrei-me de uma verdade imutável: o amor dEle não diminui de acordo com os meus erros, nem aumenta de acordo com os meus acertos. Eu estava livre para adorar, porque a graça de Jesus é maior que todo mal que eu pudesse causar a mim e a outras pessoas. Naquela noite inesquecível, obtive três respostas de Deus, o que me encheu de coragem para enfrentar o que quer que o futuro me reservasse.
E que reserva ele fez! No dia 08, logo pela manhã, um telefonema inesperado. Minha irmã atendeu e, atônita, olhou pra mim e pra minha mãe: “ele quer falar com o meu pai”! Como assim? Como alguém teria a capacidade de ligar pro meu pai depois de quase nove meses de sua partida para a eternidade? São em momentos assim que eu gostaria de voltar a ser criança, só pra não ter que resolver assuntos de gente grande. Minha mãe pediu pra que eu conversasse com o moço no telefone. O assunto não vem ao caso, mas ele queria se certificar de que meu pai havia... Bem, ele pediu o número do atestado de óbito e eu repeti vagarosamente cada algarismo, até que... Uma longa pausa me fez ouvir o som ambiente do outro lado da linha. “Isso é realmente necessário”? Perguntei. É claro que ele não considerou o mal que aquele ato estava me causando. “Preciso desse número, senhora”.
Não sei por que insisto em acreditar que tudo tem um propósito, mas sei que tem. Talvez o tom da minha voz tenha provocado algo bom naquele homem. Talvez o meu dilaceramento tenha o feito refletir sobre seu relacionamento com o pai ou os filhos, se for o caso. Talvez ele os tenha abraçado naquele dia e dito o quanto os ama e teme perdê-los. Talvez.
Não que eu precise me justificar, mas, nesse caso, o farei com prazer. O assunto em questão não era nenhuma dívida. Aliás, desconheço homem mais honesto que meu pai. Na verdade, a inocência e boa fé dele fizeram com que pessoas sem escrúpulos não o respeitassem. Mas deixa pra lá... A lei da semeadura nunca falha... É bíblico. Aqui se planta, aqui se colhe.
A noite do dia 08 veio como um presente pro meu coração tão triste... Assistir a ministração do Thalles Roberto foi a realização de um sonho, ainda mais na companhia de amados amigos. Mais uma vez o Senhor ministrou na minha vida a palavra de dias atrás: “você é minha filha amada e perdoada”. O dia, que começou tão mal, terminou ao som de Jesus Culture: “Oh, dia feliz, dia feliz... Você lavou meu pecado. Oh, dia feliz, dia feliz... Eu nunca serei o mesmo, pra sempre estou mudado”. Nem o pneu furado na volta de Quirinópolis foi capaz de tirar o sorriso que se misturava às lagrimas de alegria... Foi o meu dia feliz, tão feliz.
De repente, já era dia 16, e eu estava ali, com minha saudade e meu amor inabaláveis, além da presença do meu pequeno príncipe, Otávio, dissipando o mal que rondava meu coração. Nãos sei como isso é possível, juro que não sei, mas não me lembro de detalhes sobre esse dia. Sei que a Paulinha me mandou uma mensagem citando 1 Pedro 5:7 – “Lançando sobre Ele TODA vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós” (grifo dela), que serviu para que eu me entregasse ao meu Pai com amor e confiança e sentisse Seu abraço mais uma vez. Fico feliz por ter amigos tão abençoados/ abençoadores e pelo fato de a Palavra de Deus surtir um efeito tão intenso em mim.
Eventos que aconteceram posteriormente, como a última Santa Ceia do ano, a cantata da UMADERV na praça, o churrasco do PREX e os pré-congressos tornaram ainda mais especial o temido mês, que já estava quase acabando. Eu disse quase, porque ainda faltavam duas datas não menos importantes: Natal e ano novo.
Independente do que poderia acontecer, o colo do meu Aba me oferecia segurança irrestrita e confortável familiaridade. Com Brennan Manning aprendi que, quando a impressão que tenho é de que tudo está perdido, devo fechar os olhos, virar para cima as palmas das mãos e orar: “Aba, pertenço a Ti”. Nada mais. Isso é o bastante.