quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Querido blog, quanto tempo!


Já não nos falamos há seis meses e devo confessar que não tive tempo de sentir sua falta... Perdoe-me pelo ímpeto sincericida, mas precisamos discutir nossa relação com certa urgência, porque não somos mais os mesmos. Desde que nos conhecemos, você tem sido um ótimo ombro amigo, sobre o qual depositei minhas lástimas e temores. Mas agora é diferente...
 
Me preocupei outro dia quando um amigo me disse algo. “Quando quero saber como você está, visito seu blog”. Sim, querido blog, você é meu porta-voz (letra)... Uma espécie de termômetro do meu estado de espírito. Por isso, preciso gritar (escrever) aos quatro cantos como estou bem. Sei que ando em falta contigo, pelo fato de tê-lo usado como muro das lamentações e não ter voltado pra contar que as lágrimas cessaram. 

Nos últimos meses, muitas coisas aconteceram. Algumas das datas mais importantes da minha vida passaram sem que eu pudesse postar aqui um relatório pra te deixar a par das novidades, como, por exemplo, minha formatura no curso de Jornalismo e o casamento da Lidizinhaminhavida. Sim! Não se assuste... Sou jornalista e a Lidi é uma senhora agora (além de ser jornalista também, claro).

O pequeno príncipe Otávio completou seu primeiro aninho e esse fato marcou uma nova etapa da minha vida. Você sabe que ele foi minha válvula de escape quando tudo aconteceu... E por falar nisso, tenho uma GRANDE NOVIDADE. Não estou mais de luto, querido diário. A saudade e o amor não vão acabar, mas o luto foi embora assim que me deixei entregar a um sentimento puro e verdadeiro, o qual me curou, libertou, vivificou. O amor do homem da minha vida me fez ver que ainda posso (e vou) ser muito feliz, ser inteira, ser completa. O meu príncipe (o grande) me tirou da escuridão das lástimas. Hoje eu sou, definitivamente, outra pessoa.

Permita-me contar como a mudança foi efetivada. Dia 16 de março de 2012... Um ano. Data temida, rejeitada pelo meu coração. Se eu não tivesse o Alysson, o cuidado e o amor dele, não sei se sobreviveria. Mas Deus conhece meus limites e tratou de cuidar de todos os detalhes.

Hoje, quase sete meses depois, consigo ainda me lembrar perfeitamente daquele fatídico dia. Minha mãe entrou em crise... Se abraçou às roupas que sobraram e chorou compulsivamente, ouvindo “O Escudo” durante todo o dia. Minha irmã se isolou no quarto e sofreu à sua maneira. Eu já não suportava a tristeza que notoriamente pairava ali. Em um instante de fraqueza (ou de força, não sei), tomei a estrada e fui pra Acreúna, sozinha e sem contar nada a ninguém. 

Voltei ao local do acidente e lá permaneci por algum tempo, chorando e desabafando com Deus. Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida... Confrontei a cruz, os dizeres gravados e o bendito (maldito) dia 16. Ali, querido diário, rasguei meu coração e sepultei meu pai, de uma vez por todas. Já fazia um ano e ele permanecia vivo em mim, mais vivo que eu mesma. Pensava nele e chorava todos os dias (sem exceção) desde que tudo aconteceu. Devo esclarecer que não se trata do sepultamento do esquecimento. Ele jamais será esquecido. É o sepultamento da entrega. Entreguei o corpo, a alma e o espírito dele a Deus, como deveria ter feito há muito tempo. Tinha que fazer isso. Tinha que aceitar que ele estava morto. É... Essa é a palavra, que até então eu não conseguia pronunciar... Meu pai estava, está e estará morto pra essa vida. Pela primeira vez, voltei ao cemitério e me certifiquei da verdade que buscava esconder de mim mesma... O túmulo dele estava lá. O consolo naquele momento foi a certeza de que sua alma descansa no Papai do Céu. 

No mesmo dia em que sepultei um pai, ressuscitei outro... Aquele que o Senhor escolheu pra ser o meu, aquele de quem herdei tantas coisas, física e pessoalmente falando. Meu pai Cairo, com quem tinha um relacionamento conflituoso até então, passou a fazer parte da minha vida, de fato, desde aquele dia. Eu errei muito com ele, o magoei, me fiz de vítima, ainda que inconscientemente. Fui confrontada ao ouvir a verdade sobre mim mesma e cresci, aprendi e abracei minha nova família (meus irmãos, a quem tanto amo, meu pai, minha madrasta)... Eles são bênçãos na minha vida, são parte de mim, são minha história, meu testemunho. Hoje sou feliz em tê-los na minha vida, como deveria ser. 

É... As coisas estão se acertando. Hoje eu sou mais forte, mais madura. Hoje eu vejo beleza na vida, como via antes. Acredito de novo na felicidade, na plenitude, na completude. O ano de 2012 tem sido incrível. A propósito, acabei de realizar mais um sonho. Apesar de tê-lo abandonado por um tempo, querido diário, parei um pouquinho a minha agitada rotina com a volta ao trabalho após uma viagem internacional pra te contar as novidades. Sim, internacional. Visitei Paris, Bruxelas e Amsterdam. Viagem linda e inesquecível, porém incompleta, pela ausência do meu amor, que, aliás, tornou-se tão meu que é insuportável pensar em não tê-lo por perto. Em Paris (sozinha, infelizmente), comemorei nosso aniversário de sete meses de namoro e foi impossível não associar o número à perfeição de Deus.

Aqui está um relatório dos últimos meses. Estou surpresa pelo fato de ter conseguido resumir graciosamente minha vida em poucas linhas. Quando conseguir reorganizar meus horários e atividades, posso dar detalhes a respeito de alguns acontecimentos importantes, como minha formatura, por exemplo, que foi inesquecível. Posso falar minuciosamente também sobre o casamento da Lidi. Sobre a viagem então... Posso escrever um livro. Posso... Tá bem. Vou parar por aqui. Foi bom falar contigo. Mando notícias assim que possível. Trouxe um teclado novo de Paris pra você, tá bem?



Sua amiga, Muriele.