quarta-feira, 4 de abril de 2012

Nova estação




Eu sentia que algo bom estava pra acontecer, que uma nova estação acenava pra mim, toda sorridente, pedindo licença para se instalar. Tinha que ser assim... Ou eu não suportaria os ventos impetuosos e o frio causticante do rigoroso inverno que perdurava até então. O mês de fevereiro trouxe consigo a promessa de boas novidades... Afinal, o Congresso estava se aproximando. Sim, aquele Congresso... Aquele mesmo do ano passado...
A minha oração era exatamente essa: “faça-me viver um novo tempo, Senhor”. Porém, mesmo não tendo nada além de um sonho e uma inesgotável fé, não imaginei que Papai do céu fosse levar minha oração ao pé da letra tanto quanto o fez. Ainda em janeiro, enfrentei a pior crise de fé da minha vida. Não vem ao caso explicar, mas eu me vi em meio a situações para as quais, humanamente, não havia solução. Lembro-me bem do dia 24, quando, estando ainda de joelhos, recebi uma ligação como sinal de que o melhor estava por vir. Era a Lidi... “Princesa, a deusa da minha alegria”... Após cantarolar a música que ela mesma definiu como sendo minha, disse empolgadamente: “tenho uma ótima notícia pra você, irmã linda”! Foi realmente uma notícia maravilhosa, melhor do que pensei em um primeiro momento.
No mesmo dia, pouco tempo depois, outra ligação... “Minha filha, você está bem?” Era o Pastor Silvano, um amigo que tenho em Acreúna. Não, eu não estava bem. Aliás, nunca estive tão mal desde março do ano passado. Disfarcei o tanto quanto pude e ele continuou... “Deus me mandou fazer uma campanha de 21 dias de jejum e oração por você. Vamos fazer isso juntos?” Como é bom ter amigos que entendem nossas lutas no âmbito espiritual, que não tiram conclusões a nosso respeito sob influência do estereótipo. “Claro, Pastor, claro”. No outro dia, começou a batalha espiritual e, por mais que meu coração tenha se enchido de fé, não imaginei que Deus fosse empreender tamanha mudança em minha vida. Gosto de pensar que Ele olhava pra mim e dizia: “você não queria um novo tempo, filhinha? Então se joga”!
No dia 04 de fevereiro, eu, Lidizinha e Fabrício lindo fomos até Goiânia, na casa da tia Márcia. Nem se eu quisesse, conseguiria me esquecer daquele final de semana. Voltei outra pessoa, determinada, tão cheia de coragem que mal podia me reconhecer. “Muri, se você não tentar ser feliz, nunca vai saber se daria certo ou não”. Eu acreditei nisso... Tanto que, 20 dias depois, decidi arriscar... Um maravilhoso risco, diga-se de passagem.
Enquanto isso, o conflito na minha casa se intensificava (não de pessoas, mas de idéias). Minha mãe e minha irmã queriam voltar para Acreúna e isso me preocupava muito... Como lidar com um turbilhão de emoções e responsabilidades se a ele fosse acrescentada a ausência da minha família? Sob influência do desejo de fazer as duas felizes, eu não percebia que estava sendo egoísta, atando-as a mim sem que elas desejassem permanecer ao meu lado. Não por falta de amor, gratidão ou qualquer coisa do gênero, mas porque, mesmo me amando, elas simplesmente não se adaptaram à nova vida, à nova cidade e à nova condição (viúva e órfã, respectivamente). Portanto, decidi deixá-las livres.
A campanha de oração com o Pastor Silvano encerrou-se no dia 15, em uma quarta-feira, e, surpreendentemente, no outro dia (16, diga-se de passagem), tudo à minha volta começou a sofrer um processo de transformação. Fiz um compromisso com Deus ainda na quarta, dia 15, e entreguei minha mãe e minha irmã em Suas mãos, deixando de olhar para minha vontade de tê-las por perto e confiando que, à medida que a vontade de Deus fosse feita, elas seriam felizes o tanto quanto pudessem. Eu estava preparada para a idéia de que isso poderia acontecer fora do alcance dos meus olhos. Na quinta-feira, durante o culto, reafirmei meu propósito de entrega e, no outro dia, veio a resposta. Minha irmã estava em Acreúna e, ao voltar pra casa, disse decididamente: “não quero mais me mudar pra Acreúna. Quero ficar aqui, estudar e ser feliz”. Mal podia acreditar no que estava ouvindo. É claro que minha mãe, influenciada pela decisão da Lorrane, escolheu ficar também.
“Quanto vale algo bom sentir, quando só o mal parece vir?” Essa frase nunca fez tanto sentido pra mim quanto no dia 16 de fevereiro, que, definitivamente, marcou de forma positiva minha vida. “Tenho algo engasgado na minha garganta... Talvez seja cedo dizer. Quanto tempo esperando... Mas se há tempo para todas as coisas, já é tempo”. Tá... Essa é outra história. É claro que terei o prazer de contá-la, mas não agora. O que posso dizer é que assisti, como se fosse expectadora de mim mesma, a luta inútil que meu coração travou para não deixar-me apaixonar por uma pessoa que não obedecia às minhas regras idiotas. Aplaudi de pé quando a pseudo razão perdeu a batalha, e a alternativa que me restou foi entregar-me, aceitar que estava apaixonada.
O Congresso da UMADERV aconteceu entre 18 e 21 de fevereiro. O que vivi e aprendi nesses dias vai ficar arquivado da caixa das lembranças por muito tempo, senão por toda a vida. Aliás, fevereiro de 2012 será um mês memorável pra mim. No dia 25 eu disse “sim” pra mim mesma e pra uma pessoa que tem me surpreendido dia após dia. “Sim, Muriele, ele é o que você quer. Então se joga”. As regras? Elas são circunstanciais... Mudam na medida em que o tempo passa, de acordo com o nosso nível de amadurecimento. Acho que Deus sorriu pra mim quando eu decidi quebrar as minhas normas... Obedecendo aos princípios Dele, claro. Nem preciso dizer o quanto os meus dias têm sido felizes desde então... O Alysson é, definitivamente, a combinação do que sou com o que falta em mim. Eu havia mencionado anteriormente que o nome dele é Alysson? Não? Poisé... O nome dele é Alysson. Prazer.
Como novidade pouca é bobagem, logo em seguida, no dia 27, comecei um trabalho novo, em uma área na qual sempre quis atuar. Fui contratada para compor a equipe de assessoria de imprensa da Usina Salto do Rio Verdinho, do Grupo Votorantim. Creio eu se tratar do maior desafio profissional que já enfrentei até agora e espero que seja uma mola propulsora pra minha carreira jornalística.
É... Acho que Papai do céu entendeu bem o recado... “Uma nova estação depois do congresso, meu Deus, por favor, por favor”! E por que, necessariamente, depois do congresso? Porque foi, exatamente, depois do congresso do ano passado, que começou um novo tempo na minha história. O pior de todos, diga-se de passagem. Mas agora eu não quero falar do que passou... Porque meu futuro está depositado em Alguém cujo amor por mim supera o tamanho da minha dor e das más lembranças. 


“Flores de maio (fevereiro?), sol de verão... A primavera está chegando, é o fim da solidão. O pardal encontrou casa e a andorinha ninho para si... E eu os Teus altares. Nuvens e raios sobre o sertão... Avisa lá que está chovendo, é o fim da sequidão. Diz ainda que a gente conseguiu sobreviver à dor e Deus mandou a chuva. Primavera e verão, no outono ou inverno, então, o Senhor é o meu Pastor. Na alegria e na dor, eu confio em Ti, Senhor... Nada vai me separar do Teu amor”.