sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Aba, pertenço a Ti

ABA significa literalmente “pai, papai, querido pai”. Dessa forma, podemos nos dirigir ao Deus infinito, transcendente e todo-poderoso com a intimidade, a familiaridade e a confiança inabalável que uma criança experimenta no colo de seu pai. Sou feliz em saber que o amor do meu Aba não depende do meu esforço e não se altera de acordo com o meu desempenho.
Se Charles deFoucauld tivesse a oportunidade de me conhecer, certamente não conseguiria esconder a decepção. Para ele, a única coisa que devemos absolutamente a Deus é nunca ter medo de nada. E eu tenho. Rapidamente, passei do estágio de aversão a sapos, lugares fechados e sangue para o desenfreado pavor com relação à morte, não a minha, mas a de pessoas que amo. Minha vida é antes e depois de 2011. O foco saiu de mim. Nunca mais bato a porta e vou... Tenho medo do momento de voltar a ser só eu.
Como lidar com o medo é o que me diferencia de algumas pessoas que decidem se afogar em sua autocomiseração. Eu não sou vítima. Talvez já tenha sido por muitos e muitos anos, embora não tivesse consciência disso. Enfim... O medo, por mais intenso que pudesse parecer, ainda não conseguiu me paralisar. Eu vou continuar, porque escolhi me orgulhar das minhas fraquezas, já que elas demonstram o poder de Cristo, que é atuante em minha vida.
Eu tive medo do mês de dezembro e tentei menosprezá-lo, mas isso não fez com que ele não chegasse, todo sorridente, cantarolando uma música de Natal (o que prova que os fatos não deixam de existir simplesmente por serem ignorados).  Dia primeiro... Consegui decepcionar duas pessoas que tanto confiam em mim: Deus e eu mesma. Eu errei, o que não é nenhuma novidade. O âmago da questão está no que fiz com o erro. Aprendi com ele, cresci, fui perdoada por Deus e me perdoei. Entendi que o cristianismo não consiste primeiramente no que faço pra Deus... Tudo começa com o que Ele fez por mim. O Reino que Jesus proclamou é bem mais que pessoas que vão à igreja aos domingos, lêem a Bíblia de vez em quando, fazem um retiro espiritual por ano, opõem-se vigorosamente ao aborto, não assistem filmes pornográficos, jamais fazem uso de palavras chulas e se dão bem com todos. Na verdade, o Evangelho é absurdo, e a vida de Jesus é totalmente sem sentido a menos que acreditemos que Ele viveu, morreu e ressurgiu com apenas uma finalidade em mente: mostrar-nos Seu amor. Ele não espera que tenhamos uma moral aperfeiçoada tão somente, mas sim, que sejamos cheios de amor (por ELE, por nós mesmos e pelos outros), que sejamos leais à Palavra, que desejemos chegar ao Seu próprio coração, que sejamos atraídos pela chama que consome, purifica e atribui a tudo ardente paz, alegria, ousadia e amor extraordinário, furioso.
O amor de Cristo ultrapassa o conhecimento. Precisamos abrir mão de nossas percepções humanas, legalistas, tradicionalistas, circuncidadas, empobrecidas de Deus e nos abrir para o Pai de Jesus, que também é nosso. Se o fizermos, a promessa é que seremos cheios da plenitude de Deus. E foi exatamente isso que aconteceu... Lancei-me nos braços de amor do meu Pai. Ele me abraçou, me perdoou (mesmo sem merecer), e me fez viver dias de plenitude verdadeira. Entre os dias 03 e 10 de dezembro, tive a sensação de que nada me faltava. Nunca estive tão bem (espiritualmente), tão íntima de Deus, tão feliz com Ele, por Ele e para Ele. Os problemas continuaram, as circunstâncias negativas eram as mesmas, mas a mudança aconteceu aqui dentro de mim, sem grandes alardes, sem que ninguém percebesse. Eu estava me sentindo realizada, e isso me bastava por ora.
Tudo começou com o Louvor Solidário da Catedral da Família, igreja que sempre fez questão de marcar positivamente minha vida. Durante o culto, a Palavra que ouvi reafirmou o sentimento de perdão que enchia meu peito: Deus me ama e Seu amor é muito grande e incondicional. Lembrei-me de uma verdade imutável: o amor dEle não diminui de acordo com os meus erros, nem aumenta de acordo com os meus acertos. Eu estava livre para adorar, porque a graça de Jesus é maior que todo mal que eu pudesse causar a mim e a outras pessoas. Naquela noite inesquecível, obtive três respostas de Deus, o que me encheu de coragem para enfrentar o que quer que o futuro me reservasse.
E que reserva ele fez! No dia 08, logo pela manhã, um telefonema inesperado. Minha irmã atendeu e, atônita, olhou pra mim e pra minha mãe: “ele quer falar com o meu pai”! Como assim? Como alguém teria a capacidade de ligar pro meu pai depois de quase nove meses de sua partida para a eternidade? São em momentos assim que eu gostaria de voltar a ser criança, só pra não ter que resolver assuntos de gente grande. Minha mãe pediu pra que eu conversasse com o moço no telefone. O assunto não vem ao caso, mas ele queria se certificar de que meu pai havia... Bem, ele pediu o número do atestado de óbito e eu repeti vagarosamente cada algarismo, até que... Uma longa pausa me fez ouvir o som ambiente do outro lado da linha. “Isso é realmente necessário”? Perguntei. É claro que ele não considerou o mal que aquele ato estava me causando. “Preciso desse número, senhora”.
Não sei por que insisto em acreditar que tudo tem um propósito, mas sei que tem. Talvez o tom da minha voz tenha provocado algo bom naquele homem. Talvez o meu dilaceramento tenha o feito refletir sobre seu relacionamento com o pai ou os filhos, se for o caso. Talvez ele os tenha abraçado naquele dia e dito o quanto os ama e teme perdê-los. Talvez.
Não que eu precise me justificar, mas, nesse caso, o farei com prazer. O assunto em questão não era nenhuma dívida. Aliás, desconheço homem mais honesto que meu pai. Na verdade, a inocência e boa fé dele fizeram com que pessoas sem escrúpulos não o respeitassem. Mas deixa pra lá... A lei da semeadura nunca falha... É bíblico. Aqui se planta, aqui se colhe.
A noite do dia 08 veio como um presente pro meu coração tão triste... Assistir a ministração do Thalles Roberto foi a realização de um sonho, ainda mais na companhia de amados amigos. Mais uma vez o Senhor ministrou na minha vida a palavra de dias atrás: “você é minha filha amada e perdoada”. O dia, que começou tão mal, terminou ao som de Jesus Culture: “Oh, dia feliz, dia feliz... Você lavou meu pecado. Oh, dia feliz, dia feliz... Eu nunca serei o mesmo, pra sempre estou mudado”. Nem o pneu furado na volta de Quirinópolis foi capaz de tirar o sorriso que se misturava às lagrimas de alegria... Foi o meu dia feliz, tão feliz.
De repente, já era dia 16, e eu estava ali, com minha saudade e meu amor inabaláveis, além da presença do meu pequeno príncipe, Otávio, dissipando o mal que rondava meu coração. Nãos sei como isso é possível, juro que não sei, mas não me lembro de detalhes sobre esse dia. Sei que a Paulinha me mandou uma mensagem citando 1 Pedro 5:7 – “Lançando sobre Ele TODA vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós” (grifo dela), que serviu para que eu me entregasse ao meu Pai com amor e confiança e sentisse Seu abraço mais uma vez. Fico feliz por ter amigos tão abençoados/ abençoadores e pelo fato de a Palavra de Deus surtir um efeito tão intenso em mim.
Eventos que aconteceram posteriormente, como a última Santa Ceia do ano, a cantata da UMADERV na praça, o churrasco do PREX e os pré-congressos tornaram ainda mais especial o temido mês, que já estava quase acabando. Eu disse quase, porque ainda faltavam duas datas não menos importantes: Natal e ano novo.
Independente do que poderia acontecer, o colo do meu Aba me oferecia segurança irrestrita e confortável familiaridade. Com Brennan Manning aprendi que, quando a impressão que tenho é de que tudo está perdido, devo fechar os olhos, virar para cima as palmas das mãos e orar: “Aba, pertenço a Ti”. Nada mais. Isso é o bastante.

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