sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Eu digo NÃO ao amor sequestrador!



A última semana de dezembro foi a pior do ano em termos de dor física. Troquei os dias pelas noites, literalmente, e minha mãe sofreu tanto quanto eu, porque passou noites em claro ao meu lado, tentando aliviar minha dor com suas massagens nada profissionais, porém apaziguadoras. Acontece que sofro de um mal chamado espondilose cervival, um tipo de osteoartrite que causa dores intensas nos ombros, braços e pescoço.
Nunca ninguém me compreendeu tão bem quanto Melanie Thernstrom, no livro “As crônicas da dor – tratamentos, mitos, mistérios, testemunhos e a ciência do sofrimento”. Faço das palavras da autora as minhas: “A dor começou a impor o seu domínio sobre o meu mundo. Não era como uma intrusa violenta que entra à força, quebra tudo e vai embora. Era mais como uma parceira doméstica azeda, íntima e feia; uma presença ameaçadora, suja, perturbadora, mas que se recusava a ir embora. Eu não gostava de acordar e sentir as suas mãos grudentas em mim; não gostava que ficasse pela cozinha, me fazendo derrubar pratos pesados; não gostava que interrompesse meus telefonemas, especialmente quando uma amiga confidenciava uma tristeza que eu me preocupava em escutar. Eu me preocupava, mas não como antes, porque agora parte de mim só se preocupava com a dor. ‘O meu pescoço dói’, era o que me segurava para não dizer, queixosa, quando as minhas amigas discutiam casamentos e abortos. ‘O meu braço dói’”.
Além do incômodo da dor, cobranças, acusações e o tal do “amor sequestrador” fizeram desses últimos dias do ano os piores possíveis. A guerra que acontecia dentro de mim não me deixava dormir. Certa de que o coração é o árbitro das decisões, me calei o máximo que pude pra poder ouvi-lo. E ele me disse o que fazer...
Antes de qualquer coisa, eu sabia que tinha o poder de entrar na vida de alguém e dar a essa pessoa a coragem de ser. Isso significa que poderia estender a mão da reconciliação a alguém que afastei, fazer uma ligação para alguém com quem tive um conflito ou para um familiar com quem não falava há muito tempo. Dessa forma, a cura passa a ser a oportunidade de transmitir a outro ser humano o que recebi do Senhor Jesus; a saber, Sua aceitação incondicional de mim mesma como sou, não como deveria ser.
Ele me ama, seja em estado de graça, seja de desgraça, quer eu viva de acordo com as expectativas elevadas de Seu Evangelho, quer não. Ele vem a mim onde vivo e ama-me como sou. Sempre que transmiti essa mesma realidade à outra pessoa, o resultado foi a cura interior dessa pessoa por meio do toque da minha afirmação. Afirmar uma pessoa é enxergar o bem que há nela, o qual ela mesma não consegue enxergar, e repetir isso apesar das aparências em contrário. Quando uma pessoa é despertada para aquilo que ela é e não para aquilo deixou de ser, o resultado mais frequente é a cura do coração. Como bem disse Brennan Manning, a pergunta não é se podemos curar, e sim, se deixaremos que o poder curador de Jesus flua por intermédio de nós para alcançarmos e tocarmos outras pessoas, de modo que elas possam resistir, lutar e sonhar, correndo para onde nem os corajosos ousam ir.
Eu me autoafirmo como “médica ferida”. Portanto, é meu dever oferecer a cura. Mas até quando o já banalizado “amor cristão” me obriga a agir além das minhas possibilidades? Até que ponto é saudável e biblicamente correto eu me anular em benefício do outro? Aprendi, em meio a esse conflito, que o perdão e o amor são incondicionais, mas a continuidade de um relacionamento, definitivamente, não. O amor que envolve compromisso e amizade eu posso escolher a quem dar, sem culpa e sem medo.
Para reafirmar o que o próprio Deus já havia ministrado ao meu coração, uma linda amiga, usada por Ele, fez chegar até mim um texto que mudou minha vida. Trata-se do posicionamento de Caio Fábio a respeito desse “amor” exigente e acusador.
Segue o texto:



Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas?

Certas frases soam tão bem que parecem até ser verdade. Uma delas é essa frase de “Miss Universo” recitada do livro “O Pequeno Príncipe”.
Nunca vi uma receita de doença ser escrita com tanta beleza e aparência de verdade! De fato, estou escrevendo isto apenas porque hoje recebi alguns e-mails de gente me dizendo basicamente o seguinte: “Puxa, mandei uma carta pra você fazendo perguntas e abrindo o coração, e você nunca me responde. Continuo amando você apesar disso. Mas quero que você saiba que me cativou. Por isso, quero resposta. Me responda, porque eu amo você”.
Todo mundo gosta de ser amado, mas eu já tive mil vidas de amor por mim que quase me mataram. Sim, pode-se ser vitimado e morto por esse tipo de amor “Pequeno Príncipe”.
Só Deus sabe as centenas de viagens que não podia fazer, mas fiz. Tudo por causa do sequestro do “amor”.  Só Deus sabe quanta coisa minha, pessoal, essencial, e de profunda significação, deixei de fazer, apenas porque estava sequestrado por esse tipo de amor que ama convenientemente, transferindo responsabilidades para você. Não, meus amigos! Não estou mais sequestrado pelo amor dos que barganham!
Esse tal amor é barganha infantil e profundamente sequestradora. E tem gente que só ama assim: em troca de alguma coisa — preferencialmente em troca de você, de sua alma. Esse amor, hoje em dia, eu o discirno de bem longe. Não me diz mais nada. Enfartei dele! Esse amor é amor de vampiro!
Tal amor é doença e gera co-dependência. Você fica sequestrado pelo outro, sendo que o outro obriga você a ser dele sem que você possa ser, posto que nunca pediu para ser, muito menos para ser daquele modo e com aquelas cobranças. É como ir andando na rua, ser achado bonito, e, em razão disso, ter que ceder a todas as cantadas. Afinal, você cativou pessoas, e, supostamente, não se pode deixar de aceitar responsabilidades por ter gerado algo tão divino nos outros.
Tudo bobagem! Narcisismo bondoso, porém, ainda, narcisismo! Eu, todavia, já fui vítima disso, e sei que quando você se arrebenta contra a penha da existência, os seus “amantes cativados” acusam você de os haver traído.
Ah, quantos amigos desses eu tive! E onde andam? Cobravam-me presença, atenção, responsabilidades, se diziam irremediavelmente meus discípulos, culpavam-me de os haver convertido e de os haver apresentado um Evangelho tão belo, de tal modo que ou eu os atendia ou tinha que viver com a acusação desses amantes cativados. Fiz tudo para agradar a milhares e milhões de amantes fraternos!
 “A minha vida, ninguém a tira de mim; eu espontaneamente a dou”... — ensinou-me, na prática, o Senhor. Assim, meus amigos, escaldado e livre, esse gato já não tem donos terrenos que pelo “amor de vampiro” o possam impressionar. Antes, eles tiravam de mim. Hoje, meus queridos, eu dou!
Faço só o que posso, e não estou num concurso de amor fraterno. Podem amar a quem desejarem. Fico feliz quando vejo as pessoas amando, não sinto ciúmes de ninguém que seja mais amado do que eu.
No entanto, saibam todos: o Bom Pastor, que conhece todas as ovelhas e que pode cuidar de todas: só há um: JESUS! Ele é o Único Pastor porque somente Ele pode cuidar de todas as ovelhas. E mais: somente Ele pôde dar a própria vida e depois reavê-la. Esse mandato, todavia, eu não recebi de meu Pai. Eu — meu Deus! — mal dou conta de meu dia!
Assim, amigos, me escrevam. Deus sabe como faço tudo isto aqui com todo amor. No entanto, saibam: eu não estou sequestrado pelas afirmações do amor de ninguém por mim. Sou responsável por tudo aquilo que eu puder ser, mas não sirvo às neuroses da falsa bondade. Eu me amo o suficiente para não me deixar mais sequestrar pelo amor barganhante de ninguém.
E mais: minhas prioridades, essas eu decido. Nunca mais pretendo deixar que ameaças de amizades forcem o curso de meu caminho. Afinal, meus amigos, eu também amo, e, também, escolho dar amor a quem quero — pelo menos esse amor que envolve amizade e compromisso. E como sou apenas um, posso apenas aquilo que um único um pode. Quem puder mais do que eu, não me cobre; por favor, me ajude! (Caio Fábio).

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