Me machuca o silêncio impenetrável que sucede um comentário sobre as peripécias dele...
Me dói ter que reformular as frases e colocar os verbos no passado quando me refiro a ele. "Gostava", não mais "gosta". "Fazia", não "faz" mais nada.
Ainda não me acostumei com a idéia de perda...
Quando ouço o barulho do portão, corro pra tirar o pijama curto que ele tanto detestava.
Quando vejo um copo sujo de café fora lo lugar, resmungo baixinho que ele fez bagunça de novo...
Saudade de preencher cheques, agendar telefones e enviar mensagens pra ele. Saudade de ouvi-lo assoviar ou cantarolar o trecho de uma música qualquer. Saudade das risadas, das piadas, das "mentiras" hilárias que ele inventava pra nos divertir. Sinto falta até de dar satisfação sobre o horário de chegar em casa...
Ele não sabia articular as frases e tropeçava com freqüência na conjugação verbal e nos termos pluralizados, mas honrou cada palavra que proferiu.
Leigo em muitas áreas, tornou-se Doutor em outras. Realizou procedimentos cirúrgicos de grande complexidade e prestou atendimento a vários pacientes. O diagnóstico era sempre o mesmo: "precisa internar, porque é doido".
Sempre que olho pra "relíquia", o imagino dobrando a esquina com ela. Mas dessa vez ele está demorando demais pra chegar...
Xiii... Acho que ele não vem. Eu só queria abraçá-lo até a dor passar.
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