segunda-feira, 11 de abril de 2011

O silêncio da menina que gritava

"CALABOCAMURIELE"...
"O lapela da Muri deve ser colocado no pé"...
"O amor dessa menina deixa ematomas nos meus braços"...
"Ah, não fica assim. Pelo menos você sabe gritar"...

Eu sou aquela que dava escândalo ao encontrar os amigos, que apertava as pessoas e as sufocava com meus abraços felísticos. Apaixonada pela vida, pela família, pelo curso, pelo trabalho, por Deus e pelos amigos. Eu sonhava em terminar a faculdade, fazer pós em Psicologia aplicada à Comunicação em Curitiba e Teologia no IBAD, em Pindamonhangaba. Eu queria me casar, ser mãe, escrever um livro e ganhar um prêmio Esso. Queria também impactar o mundo com a mensagem do Evangelho e disseminar o bom perfume de Jesus. Queria ser âncora do Jornal Hoje e cobrir a copa de 2014. Queria ter condições financeiras suficientes para dar à minha mãe tudo de bom que o dinheiro pode comprar e ao meu pai uma fazenda, como ele sempre sonhou. No final do dia, ao vê-lo chegar do trabalho, todo sujinho, eu pedia a Deus para que aquela cena não se repetisse mais e chegou o momento em que meu desejo foi atendido...
No dia 16 de março de 2011 ele saiu da fazenda, mas não chegou em casa. Ele disse pra minha mãe que não viria, meu Deus...
Eu só queria poder tirá-lo daquele trabalho que o desgastava tanto e oferecer a ele tudo que merecia. "O véim tá cansado, gente"...
Eu daria TUDO, TUDO mesmo, pra vê-lo mais uma vez entrar pelo portão com a DT, com aparência cansada e um sorriso no rosto, com a roupinha suja e a consciência limpa pela certeza de que aquela era a forma de lutar pela família.
Ele não chegou...
Um acidente. Foi tudo o que soube no primeiro momento. Que acidente? Como? Onde?
Nada do que disseram foi suficiente pra me convencer sobre o fato. Eu repetia pra mim mesma: "é só um acidente, Muriele. Cadê sua confiança em Deus"?
Lembro-me que no dia da tragédia eu conversei com a Lidi, mais cedo, e disse a ela que havia sonhado com morte. No meu sonho (pesadelo), quem morria era a Rana. Acordei desesperada e entrei em contato com ela. Ao saber que estava bem, tentei esquecer o assunto, mas me lembro bem de ter dito à Lidi que eu tinha CERTEZA que uma pessoa ligada a mim iria morrer, porque isso SEMPRE acontece quando sonho com morte. As palavras que ouvi no sonho se repetiram na minha cabeça durante todo o dia... "Faleceu em nossa cidade Ranayan Campos Isidoro"... E eu chorei com a possibilidade de ficar sem a Raninha.
Um dia antes, outro sonho. Neste, minha pastora dava a luz à Rebeca e havia muita alegria. Mas, de repente, todos olhavam pra mim com semblante muito triste, como se estivessem compadecidos da minha dor. Cogitei a idéia que Deus levaria a Rebequinha, mas orei para que isso não acontecesse.
Sonhos à parte, começou o pesadelo real...
Cheguei da faculdade às 10:15 da noite e quem me recebeu na garagem foi o João Neto, pra me dar a notícia. "Mentira, Neto. Pára com isso. É mentira"... Foi minha primeira reação.
Entrei para o meu quarto e tentei orar, para que Deus fosse até o local do acidente e fizesse algo em favor do meu pai, o livrando da morte. Mas Deus já estava lá e nada poderia ser feito. Não consegui orar. As palavras simplesmente fugiram. "Eu te amo, Senhor. Te amo mesmo, de verdade. Te amo, Deus meu, te amo"... Foi a única coisa que consegui verbalizar. 
Pior viagem da minha vida foi a de Rio Verde a Acreúna naquele dia. Ao chegar em casa, a constatação. Meu Deus, quantas pessoas na porta, tomando a esquina, as calçadas! Será que era mesmo verdade?
Ao abraçar minha mãe, ela só conseguiu me dizer: "Minha filha, ele não vai mais entrar com você na igreja". Fui obrigada a acreditar que era verdade.
As horas que se seguiram foram terríveis e eu juro, juro mesmo, que esperei a noite toda por alguém que chegaria na minha casa e diria que não passou de um susto e que ele estava bem, no hospital. Mas ninguém veio.
No outro dia, ao sair de casa para resolver os trâmites na funerária (como dói dizer isso), recebi uma mensagem do meu Pastor. "Estou indo buscar a Rebeca no hospital. Nasceu"! Me lembrei do sonho... A alegria pelo nascimento da nossa princesa e a tristeza pelo que eu estava passando.
Mais tarde me lembrei do outro sonho, quando, debruçada sobre o caixão, ouvi passar um carro de som... "Faleceu em nossa cidade Lucivaldo Ramos da Silva, conhecido como Xingu"...
Já não sei se tenho sonhos, projetos e esperança de dias melhores. Minhas paixões foram enterradas com ele e agora eu só quero que Jesus volte logo pra nos buscar, porque no céu não haverá mais pranto.

"Mas era assim que tinha que ser. Escrito estava".


 
                          

Um comentário:

  1. nossa incrivel este texto..
    em relacao a raninha...ta ai uma noticia q espero nunca ler na minha vida.
    amem, nao seria justo...ever

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