quarta-feira, 8 de junho de 2011

As quatro perguntas

Nunca tinha visto um laudo antes.
Na verdade, nem era minha intenção ver um. Muito menos o que eu vi, especificamente ontem, dia 07 de junho.
Minha mãe esteve aqui em casa no final de semana e esqueceu uma pasta com alguns documentos...
É engraçado como as coisas acontecem... É incrível a maneira como somos forçados a adquirir experiências.
Como se não bastasse esquecer os papéis, minha mãe perdeu o cartão bancário da minha irmã e deduziu que ele estivesse dentro da pasta em questão. Ao procurá-lo, a surpresa...
"Laudo de exame médico cadavérico"...
Eu não soube como reagir. Aliás, isso tem acontecido muito nos últimos tempos.
Pensei em ignorar o documento porque talvez isso faria com que eu me sentisse melhor... Então me lembrei do dia do acidente. "E se eu tivesse ido lá"? Já dizia Julieta em sua carta... "E" e "SE" são palavras que por si não apresentam nenhuma ameaça, mas se colocadas juntas, lado a lado, elas têm o poder de nos assombrar a vida toda...
Então decidi que precisava ver o laudo por completo, independente dos danos que me causaria.
Agora, já não sei se tomei a decisão correta, porque a dor... Ai, a dor.
Pelas ilustrações, meu pai se machucou bastante. Fraturou e perfurou "órgãos nobres", sofreu escoriações no tórax e no abdômen, teve uma fratura exposta na perna esquerda, fratura cervical e do crâncio com presença de sangramento pelos canais auditivos.
Quanta violência, meu Deus...
A todo tempo, eu lia aquelas dolorosas palavras contidas no laudo e não conseguia acreditar que estavam se referindo ao meu pai. "Pele fria e com midríase (dilatação da pupila) bilateral". Parecia mentira. A risada dele ainda está tão perfeitamente viva na minha memória. A voz, o cheiro, as mãos, o abraço... Não pode ser. São em momentos assim que eu repito pra mim mesma: "Deus não comete erros, Muriele".
As perguntas surgiram mais uma vez... "Será? Será? Será"? Então me lembrei da ovelha perdida... Por mais ferida que ela estivesse, o PASTOR já havia tomado as devidas providências. Ela estava agora limpa, curada e feliz, de volta ao aprisco.
As quatro perguntas... Ah, as quatro perguntas das quais jamais me esquecerei:
1ª - Houve morte? Sim.
2ª - Qual a causa? Traumatismo cervical.
3ª - Qual o instrumento que produziu a morte? Contundente.
4ª - Foi produzida com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel? Não.
Devo dizer que não concordo com a última resposta...
Foi cruel, muito cruel.

2 comentários:

  1. É amiga, os diagnósticos da ciência são duros; meu pai também teve uma mote cruel.
    Causa: insuficiência respiratória. O câncer se alastrou dos pulmões para o quadril e para a cabeça.
    Amiga, chegou um certo momento da doença que meu pai não me reconhecia. Vc sabe o que é isso? Vc não ser reconhecida por quem ajudou a te gerar? Ah eu sei, e a dor de ser indigente aos olhos do meu pai foi dura demais.
    Meu pai foi devorado pelo câncer por seis meses. A tristeza para mim tem um rosto, o dele quando descobriu a doença que o afligia. Meu pai passou do homem mais divertido e alegre do mundo; ao mais triste de toda a humanidade. Meu pai sabia que ia morrer logo, que a doença ia o consumir.
    Minha mãe conta que na noite que antecedeu a madrugada da morte dele, ele entrou em profunda agonia, pois não conseguia respirar.
    Minha irmã, meu pai morreu sufocado, dá pra imaginar?
    Oh minha irmãzinha, eu sei qual é a sua dor e por isso estou partilhando isso com vc, pra vc saber que não estamos abandonados. Há pessoas por aí que como nós sofrem por causa da perda.
    Mas que Deus seja paciente e que nós nos levantemos logo.
    Eu devo continuar levando a alegria do meu pai para a vida de outras pessoas e você, deve levar esse abraço, esse carinho que o seu pai lhe oferecia para tantos irmãos por aí.
    Não nos deixemos consumir não, a nossa missão é amar minha querida e nos alegrar mesmo em meio as dores que precisamos suportar.
    Um abraço minha querida e que Deus continue com vc a preservando no caminho do bem.

    Andréa

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  2. é aBigaaaa tbm tive q ler um laudo deste, tanto quanto doido... meu pai caiu d uma altura d uns 18 a 20 mts pensa no estrago...
    foram perfurações, fraturas expostas, afundamento d crânio, punhos quebrados, mãos cortadas por conta da vontade d viver e tentar se assegurar em um cabo d aço, anemia profunda pela perda d sangue, traumatismo torácico e hemorragia interna...estas são algumas das duras palavras q lá estava escritas e q tanto nos dói pelo simples fato d ñ conseguir entender pq teria q ser assim, pq aquele corpo q um dia eu abracei, beijei e fiz carinho sofreu tanto, se machucou tanto... pq meu Deus, pq???
    Infelizmente ñ sabemos dos propositos do PAI mas estamos ai para q ELE nos faça entender tds os pq`s da vida...Te Amo Meu Querido Pai!!!

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