quinta-feira, 2 de junho de 2011

Shiva Sentado

A dor não deixa de existir pelo fato de ser ignorada, e tempo, meus caros, nunca curou feridas. Portanto, decidi que vou falar. Vou expor minha fraqueza, viver sem medo o que estou sentindo. Entre impressionar e influenciar pessoas, eu escolho a segunda opção. Além do mais, vou me orgulhar da minha fraqueza, já que, através dela, muitas pessoas estão sendo edificadas.
Eu ando muito ocupada, sabe... É tanto trabalho que não tenho tido tempo nem pra sentir saudade do meu pai. E isso me faz um mal imensurável. Vou tentar explicar o que sinto...
Quando não tiro um período pra chorar, desabafar (seja com Deus ou com um amigo) e me lembrar do meu pai diariamente, a percepção que tenho é de distanciamento. Sinto-o ainda mais longe de mim... E vocês não fazem idéia do que significa isso. Quanto mais penso nele, choro por ele e falo com Deus sobre o estado em que estou pela falta que ele me faz, sinto-me mais acalentada pelo Espírito Santo.
Portanto, uma semana de muito trabalho, estresse e correria desencadeou a pior crise que já tive desde que meu pai se foi. Tudo começou numa quinta-feira à noite, dia 19 de maio, quando me senti sufocada por uma angústia terrível. Acordei na sexta-feira tomada pela mesma dor com a qual dormi na noite anterior. O dia foi longo e atordoado. Cheguei da faculdade, fui pro quarto e de lá pensei nunca mais sair. Dor... Muita dor. Falei com a minha mãe e ela também estava em crise. Meu Deus.
Nesses momentos, temos o terrível hábito de falar muitas coisas das quais nos arrependeremos mais tarde. Falhamos, pedimos perdão a Deus, e uma hora depois... Lá estamos nós, praticando o mesmo erro. Falei muito com Deus e ainda assim a dor insistia em permanecer ali. De repente, me lembrei de um presente do PJ, um DVD. Devido às minhas muitas atividades, ainda não havia tido tempo de assistir, mas acredito que aquele dia foi escolhido por Deus para que isso acontecesse.
Liguei a TV. Pausa para a leitura do disco. Segundos de ansiedade e esperança... O que estaria reservado para aquele momento? Talvez Deus pudesse falar comigo e amenizar a angústia. Talvez.
Naquela noite tão sombria, o presente do PJ me pareceu um feixe de luz. Algumas das verdades que foram reativadas em minha memória:
A Bíblia diz que o Espírito de Deus se comove... Então Ele está intimamente ligado e triste com o que está acontecendo comigo. A Bíblia diz que Jesus chorou. Ele sentiu a dor da perda e se deixou atingir pela força do momento. Se o Filho de Deus externalizou, se Jesus chorou, então eu posso chorar também.
Então eu entendi que preciso ser atingida... Não posso evitar. Não posso conter minhas reações a certas situações pensando que assim elas desaparecerão. Se eu guardar o que estou sentindo, ficará aqui dentro, em algum lugar. E um dia aflorará. Preciso externalizar, senão ficará trancado aqui... Eu perdi meu pai e acho que estou lamentando adequadamente, dando a mim mesma o direito de sofrer, de não querer sorrir, de não me interessar por nada... Eu percebi que meus sentimentos são válidos. Tudo bem se eu chorar.
Existe um antigo costume judaico que pratica isso de uma forma muito profunda. Chama-se “Shiva Sentado”. Ao conhecer alguém que perdeu um ente querido, você vai até a casa da pessoa e senta-se com ela. Você simplesmente se senta. Só isso. E não diz nada. Se ela quiser falar, então você fala. Mas se ela preferir o silêncio, você apenas a respeita. Entendi que Deus está “Shiva Sentado” aqui comigo, sofrendo, chorando, sem nada dizer, simplesmente porque agora eu não quero conversar.
É fácil uma perda, seja ela qual for, tomar a importância central. Eu tinha e perdi. Há um enorme vazio no espaço que meu pai ocupava e agora só consigo pensar nisso. O que acontece nesse processo é que eu enfoco o que não tenho e me esqueço do que tenho... Tenho minha mãe, minha irmã, minha vida... E tantas outras coisas.
Há um pequeno detalhe nisso tudo: eu faço a escolha sobre o tipo de pessoa que sou ou que quero ser. Tenho a escolha de me tornar amarga ou não. Se eu não reconhecer essa escolha, um pouquinho de amargor vai entrar e daí então tomar conta de tudo.
O Senhor me fez ver problemas, muitos e amargos, mas me recuperará novamente. Ele fez a ferida e a sarará. Meu coração NUNCA será o mesmo, mas vou me recuperar. Um dia Deus recuperará tudo.  

2 comentários:

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  2. Olá querida, me chamo Andréa e agora além da Cláudinha que é um elo entre nós, temos outro também; a perda.
    Perdi meu pai há dois meses e quinze dias e sei o que é esse vazio.
    Haverá sempre nas nossas vidas uma cadeira desocupada e um espaço deixado ali por quem amamos e que já não está mais conosco.
    É preciso chorar minha querida, mas não lamente. Tranforme o seu lamento em oração, pois a morte é um fato na vida de todos e alguém um dia vai chorar por nós também.
    Lamentar atrasa a cura, atrasa a recuperação que Deus tem para nós.
    Porém, desabafe, corra para o colo daqueles que a amam e não tenha medo da sua fraqueza, pois é nela que Deus se revela forte.
    Mas, peça a Deus um espírito firme para vc levar alento aos que também o amavam; sua mãe, sua irmã.
    A fraqueza da morte na verdade é o amor vindo a tona. Por isso há apesar de tudo a força de Deus agindo em nós.
    Deus compreende-nos tão bem que apenas senta-se e chora conosco. Chora nossas lágrimas, ali em silêncio, mas está sempre pronto para prosseguir ao nosso lado.
    Eu acredito que na nossa particularidade e em casos como esse; Jesus mais uma vez desce ao nosso tamanho e se faz em nosso tempo, na nossa hora. Acredito que Ele espera até que nós decidamos prosseguir; Ele também faz a nossa vontade.
    Não se preocupe flor do jardim de Jesus; a dor não vai consumi-la, pois ela vai passar. A saudade ficará conosco, mas será saudável e manterá nossos olhos alegres.
    O importante é vivermos as emoções no tempo coerente, para entendermos que a morte pode trazer muitas incertezas; mas Jesus trouxe a certeza que precisamos viver e assumir quando Ele a venceu.
    Não contristeis o Espírito Santo de Deus se não Ele não poderá lavar o seu coração. Se permita viver apenas um dia de cada vez, guarde uma hora para Deus e sentirá que o tempo ficará mais leve a cada manhã. Será o Espírito Santo agindo em vc.
    Leia Felipenses, capítulo quatro logo no início. Deus nos dá uma ordem: Alegrai-vos sempre no Senhor, alegrai-vos!
    Um beijo da amiga Andréa de Cuiabá. (www.barcadecristo.com.br)

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